As minhas palavras enrolam-se na tua boca e as frases penduram-se nos teus lábios, a tua majestosa língua acaricia-me os dedos dos pés, e em movimento ascendente e rotacional percorre cada milímetro quadrado do meu corpo, no peito dás-me uma dentadinha e o meu Ai cola-se no vidro da janela,
- Ontem queria morrer, deixar de escrever, hoje, hoje apenas que terminasse o universo e ficasses eternamente deitada sobre mim, e que os teus lábios adormecessem no meu peito,
Beijo os teus invisíveis cabelos, passo-lhes as minhas mãos encardidas pela tinta das telas e as imagem começam a voar pelo quarto mal iluminado, com o dedo mínimo nos teus lábios, arranco-te um sorriso, e há tanto tempo que não escutava um sorriso teu…
- Desde que me sentava junto ao Tejo e no sorriso das gaivotas sentia que um dia vinhas adormecer dentro de mim, e enquanto eu acenava ao navio que em espasmos escurecia os meus olhos, imaginava o teu corpo nu caminhando junto ao mar,
O Ai olha-nos e escuta os gemidos silenciosos do teu corpo, nos teus braços as flores poisam e cantam para ti, iluminam-se de distâncias pequeníssimas, o meu corpo é verde, um plátano encalhado na maré, ou um veleiro que acaba de regressar de longe,
- As minhas palavras enrolam-se na tua boca e as frases penduram-se nos teus lábios, o teu perfume de desejo ancora-se nos meus braços cansados, e no teu púbis sinto que acaba de nascer um poema, o poema tem vida, o poema diverte-se na calçada antes do rio, e o cheiro a algas dorme sobre nós,
Ontem queria morrer, deixar de escrever, hoje, hoje abraçar-te e ter-te nos braços, hoje voar nos teus sonhos, hoje, hoje apertar-te com força, e tu,
- Parvo, tantas cócegas que te vou fazer.
(texto de ficção)
Luís Fontinha
11 de Junho de 2011
Alijó