Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

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Jun 11

Uma estrela.

Na garganta de um buraco negro, de escuro nada tem o buraco, a 3.800 anos-luz do ponto azul que somos, papou-a, saboreou-a, mastigou-a silenciosamente no frio escuro do Universo, e o professor Renato Las Casas,

- Buraco negro é uma “coisa” que de negro tem tudo, mas de buraco não tem nada,

Uma “coisa”.

E o que será esta “coisa”?, e se esta “coisa” papar literalmente o sol?, estamos fodidos, a luz extingue-se junto ao guarda-fato, ele deitado sobre a cama e no estuque penduradas estrelas, biliões de estrelas, biliões de planetas, biliões de dor de costas, espondilose e bicos de papagaio, poisa as mãos sobre o peito, e o sol a 149.597.871 quilómetros dos seus olhos, poisa as mãos sobre o peito e começa a contar estrelas, uma duas três, na décima ressona, dorme engajado, ele engajado, e o Padre,

- Voluntário nem para a tropa,

Sentido. O corpo balança com o vento. Direitaaa voolltaarrr. E cornos no pavimento.

Estatelou-se contra a “coisa”, entra pela “coisa” dentro, jornais, revistas, livros diversos, a “coisa” escura, a “coisa” junto às suas mãos, e as mãos deitadas sobre o peito, duas maminhas com luzes intermitentes, alternadamente, acende e apaga, terra à vista, as ondas mais altas que o pé direito do compartimento, e aos poucos ele engolido pela “coisa”, a “coisa” papa-o como se fosse cerelac,

- O menino dá, a colher encosta abaixo, rio, a babete empapada nas estrelas, que também elas, comidas pela “coisa”,

A luz acende-se.

E se esta “coisa” dos buracos negros nos papassem a todos?, aos poucos normaliza a respiração, puxa de um cigarro, o cigarro abraça-se aos lábios e percebe que tinha sonhado,

A “coisa” sumiu-se no escuro.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:00

Vagueio em ti

Meu cansaço bilobado

Quando da espuma encardida do jardim

Me olhas como se eu fosse uma andorinha,

 

Uma flor diluída em dor

A relva que se desprega da tua saia

Vagueio em ti

Mulher de cabelos suspensos,

 

Em fila de espera junto ao céu…

Crescem

Não crescem

E me sorriem,

 

Vagueio em ti

Quando sofres no silêncio da madrugada

Vagueio

Vagueio em ti, mulher amada.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:16

Acordo.

De algodão a mão limpa-me o rosto, afaga-me os cabelos adormecidos, abro os olhos vagarosamente, e à minha frente de branco a imagem reflectida na parede, Deus?, Nossa Senhora?, enfermeira?,

 

Acordo.

De algodão a mão limpa-me o rosto, afaga-me os cabelos adormecidos, abro os olhos vagarosamente, e à minha frente de branco a imagem reflectida na parede, Deus?, Nossa Senhora?, enfermeira?, percebo que me encontro no nada, tubos, fios, aparelhos parecendo electrodomésticos observam-me como se eu fosse um estranho, inerte,

- A voz de silêncio que percorre o corredor na luz ténue da tarde, a mãe dele com um terço na mão?, a mão de algodão sorri-lhe, frente à janela as flores que jogam à macaca, quadrados impressos no cimento dos passeios, Deus salve o meu filho, o terço em rotação nas mãos magras e cansadas, o corpo inclinado a trinta graus, o verão poisa em pequeníssimos orgasmos fingidos, e o corredor começa a dilatar-se como uma veia no cansaço das picadinhas do pó rafeiro, muitas vezes gesso, o tecto em derrocadas amargas,

Obrigado meu Deus, ele acordou.

Estou vivo.

Não tenho pernas, eu vejo-as, vejo-as mergulhadas nos lençóis e disfarçadas de nuvens, mas não as sinto, com a ajuda de uma grua tento levantá-las, e parecem as dobradiças do portão do quintal de Luanda, perras, barulhentas, os móveis em movimento no apartamento em Lisboa, madrugada dentro, as minhas pernas acordam o prédio em descanso, homens e mulheres que ressonam, homens e mulheres enrolados nas acácias junto ao rio, e homens e mulheres vendendo prazer em filas de coxas nas velharias de Belém, sábado, o sol vem-se aos poucos e na minha pele a brancura das paredes da enfermaria, tenho fome,

- E ele quando menino agarrado às minhas pernas e soluçava com o cheiro do mar, procurava as lágrimas no céu, e os olhos verdes começavam a mergulhar na maré,

E se ele acordou, meu Deus, faz com que comece a andar.

A mão de algodão a atirar frases contra as paredes, como se sente, tem dores, lembra-se como veio para aqui, tente levantar as pernas, e o cheiro intenso a merda onde repousa o meu rabo um qualquer musseque em Luanda, a lama em gatafunhos entre os becos, e a sombras das palhotas emagrecem na chuva miudinha, levantar as pernas só com a grua do senhor Ernesto, e porque me olham os vizinhos,

- Já posso falar com ele?, e que não, e que precisam de dar-lhe banho, coisas simples da higiene, coisas tão simples, e eu apenas um beijo na testa,

Obrigado.

E lembro-me que andava no jardim a apanhar flores e uma sombra tombou sobre mim, só isso?, que eu me lembre, só…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 16:05

Este pequeno texto não tem o intuito de ofender as susceptibilidades de ninguém, tão pouco entrar no campo religioso; sou ateu e espero que respeitem as minhas ideias, da mesma forma que eu respeito os que acreditam, seja ela qual for a religião.

“Tiago Mesquita, 100 reféns” escreveu uma crónica no expresso (http://clix.expresso.pt/entrou-nas-urgencias-com-uma-nossa-senhora-dentro-dele-literalmente=f656578), onde relata a entrada de um indivíduo nas urgências do HUC, Hospital da Universidade de Coimbra, com uma nossa senhora de Fátima enfiada no ânus, não caros leitores, não é anedota, aconteceu. A explicação para o sucedido é que andava nu pela casa, escorregou, caiu, e por grande milagre, a entrada da nossa senhora de Fátima pelo rabo acima.

Aos poucos chegam até nós relatos esquisitos, mulheres pedem ajuda às urgências dos hospitais, com os mais variados objectos metidos na vagina (garrafas de Coca-Cola, telemóveis, comando de TV, e afins), e também existem casos de homens com os objectos mais estranhos enfiados no ânus.

E se Deus dotou a mulher com vagina e o homem com pénis, não teve, penso eu, na mente, que a primeira sirva-se dela para depósito de objectos, e o segundo, enfiar o objecto em buracos de parede, galinhas, ou, ou às vezes em locais estranhíssimos.

Tenham juizinho, e antes de enfiarem o que quer que seja, pensem duas vezes: não foi para isso que Deus deu ao homem um pénis, e à mulher uma vagina.

Utilizem-nos de forma correcta, ou será necessário manual de instruções?

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:47

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