O sonho dela,
Enfiar-lhe espigas de milho rabo acima,
As curvas do Douro na sombra dos socalcos quando pela manhã batem à porta, abre a porta, um cadáver entra e senta-se na sala, e o cu colado com pastilha elástica, o rabelo na curvatura do cotovelo circunflexo, o vento que estaciona gaivotas junto ao cais, o almoço na mesa, crisântemos com malmequer e molho de girassol, voltamos ao Douro, uma sombra carrega pausadamente o silêncio da enxada, a remela do xisto nos olhos das videiras, o cheiro a carqueja inalada pela prisão de ventre, o intestino do Douro até à foz e na sanita o desabafo da noite anterior, enfiar-lhe espigas de milho nos orifícios das sílabas, o senhor cadáver sacode o guardanapo e deixa cair no chão lavrado da terra o talher com sabor a limão, quatro cadáveres e duas cegonhas sentados na mesa de granito, a empregada vestida de serapilheira enrolado nas mamas de silício, uma das cegonhas acena com a mãozinha à empregada, Não gosto de molho de girassol, a empregada cruza os ombros e indiferente responde-lhe que só come quem quer, e se a menina não gosta paciência, uma das mamas começa a despertar da luz que acorda na parede da sala e virada para o rio,
- E o rio poisado no parapeito, a empregada engasga-se e grita Ai Jesus,
O rio finca os dentes no vidro envelhecido da casa, as mãos amarradas à encosta onde vagarosamente se passeia uma locomotiva envenenada pelo fumo dos cigarros, vai e vai e vai e nunca mais chegará ao Porto,
. A empregada pergunta a um dos cadáveres, Para que servem as agência de rating, caralho?,
E nunca mais sairá do Douro entranhado no púbis das oliveiras, emagreço, queixa-se a empregada, eu fodia-te, murmura um dos cadáveres, não gosto de molho de girassol, grita uma das cegonhas, vai e vai e vai, e o carvão dos ossos extingue-se e a locomotiva suspensa na rabina, pára no apeadeiro da morte, e o magala nunca chegará à Calçada da Ajuda,
- Diga-me lá para que serve essa merda do rating?, a empregada a enxotar de uma das mamas uma abelha vestida de azul,
A vodka escondida no beliche da camarata, o nevoeiro de fumo de erva entontece a cabecinha do Sargento, fica em sentido, pega num dos ramos de oliveira e adormece a fazer continência ao armário encostado à parede, da sanita turca emerge uma ratazana com um cigarro ao canto dos lábios, e quando se depara com a sombra do Sargento levanta uma das patas e mija-lhe nas botas engraxadas pela saliva,
- A empregada brinca com espigas de milho,
O rio em pancadinhas fofas nos vidros da tarde, a empregada desesperadamente, Ai Jesus, Ai Jesus, a empregada deixa cair uma das mamas e novamente questiona-se,
- Para que servem as agência de rating, caralho?,
Precisamente para enfiar no cu como espigas de milho…