Vinte e duas horas. Da rua ouve-se o vento enfurecido da noite, ao longe o mar, as lâmpadas de um barco iluminam a janela da sala, e ela deitada no sofá sonolento do néon pendurado no teto, com a mão poisada no cabelo e com os meus lábios perpendiculares aos ouvidos dela digo-lhe, Amor, vamos deitar!, ela olha-me e sorri-me e na voz cansada dos lençóis que a esperam diz-me,
- Já são horas?,
Acaricio-lhe a face, sento-me junto a ela e respondo-lhe que sim, Sim amor, já são horas!, ela suspende as mãos no meu pescoço e em chantagem diz-me que só vai dormir se eu a levar ao colo, e eu penso, Ai é!, levanto-me, e com um braço pego-lhe nas pernas e com o outro entre o sovaco e o seio levanto-a do sofá cansado e levo-a para o quarto, e ela em gritos no silêncio da sala,
- Parvo vais deixar-me cair, pára parvalhão, e és tão parvo,
Enrola-se ao meu pescoço como uma cobra que desce de uma árvore, custa-me respirar, ela em cócegas começa a torcer-se com se fosse o vento a acariciar-lhe o caule tenro da tarde, deito-a sobre a cama e em voz meiga digo-lhe para se despir, tomar banho e caminha, ela provoca-me,
- Não me queres dar tu banho?,
E eu num dilema; dou-lhe ou não banho!, e decido não dar, será melhor para os dois, ela despe-se e em provocações demoradas vai tirando a roupa, ela nua em direção à casa de banho, ouço o ruido da água e no espelho do quarto o vapor que emerge do corpo dela, imagino-lhe os seios, imagino-lhe as coxas, imagino-lhe os lábios humedecidos da noite, deito-me sobre a cama e perco-me nos minutos, a água cessa e ela entra no quarto com a t-shirt vestida, branca, e o púbis sorri-me e olha-me, ouço-lhe na voz do banho,
- Agora amor, vais ter de me contar uma história!, Uma história?, respondo-lhe embriagado na sonolência da noite, sim amor, uma história,
Eu digo-lhe que não sei nenhuma, e ela, claro que sabes, Sim Amor?, uma só, sim, está bem, está bem,
- E começo a contar-lhe a história de uma menina que atira pedras às cabras e espeta pregos nas oliveiras,
Ela em sorrisos, e desabafa, miúda safada essa, eu abano a cabeça que sim, miúda safada essa,
- E às vezes perdia-se no meio do trigo e escondia-se na sombra do milho,
Ela fecha os olhos, adormece lentamente nos meus olhos, dou-lhe um beijo na face e desligo a luz do candeeiro,
- Até amanhã amor,
E ouço a voz dela nos sonhos,
- Até amanhã parvalhão.