Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

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Jul 11

(e porque devemos ser livres de amar, A todas as mulheres que amam mulheres)

 

Os púbis entrelaçados

Nos ramos de uma amoreira

Os pássaros em gritos cansados

Que se encostam aos púbis à lareira

 

Quando quatro seios leem literatura

E os umbigos entretidos na poesia

Dois lábios se beijam com ternura

E duas coxas se desejam durante o dia

 

Uma boca e outra boca

Que mergulham na noite escura

E uma das mãos louca

 

Palmilhando os lençóis de seda escarlate

Que procura

O coração da outra que bate.

 

(novo acordo ortográfico)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:17

As silabas atónitas do corpo mastigado

Na saliva da noite

E se entranham no aço das estrelas

As frestas do cansaço encalhado

A menina vacila sobre a corda da vida

E a vida não lhe sorri

As silabas caiem do papel de cetim

Mudam de linha

Paragrafo

Travessão

Ponto final

Morre na penumbra madrugada,

 

A rua paralela ao rio

Embaciada na tarde em cio

O semáforo que me proíbe a passagem

E eu fecho-me no sono da outra margem,

 

Cacilheiros com boina de cavalaria

Arrotos de calçada

Putas embainhadas na leitaria

À procura da madrugada,

 

Afogo-me numa árvore

Enforco-me no rio,

 

A tarde antes de chegar a noite

Os pássaros nas minhas costas suspensos

E me cagam e me mijam e se riem de mim

Enxoto-os com os meus lábios em labaredas

E dos cigarros crescem-me lâminas de barbear

Cortam-me o cabelo

Vestem-me fato e gravata

E nos alicerces sapatos de verniz,

 

As silabas atónitas do corpo mastigado

Na saliva da noite

E se entranham no aço das estrelas

As frestas do cansaço encalhado,

 

E no meu peito cresce um buraco negro.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 17:58

O sémen dos olhos cessam na despedida de um olhar, as mãos imobilizam-se na finíssima folha amarrotada de papel e as palavras que se engasgam nas nuvens da manhã em pequeníssimos crepúsculos circulares, o corpo habitado pelas larvas da noite extingue-se e desparece no nevoeiro junto ao rio, tomba, mistura-se com as acácias do jardim e as abelhas alimentam-se das pétalas da sua boca, acorda a noite, levantam-se do chão calcetado de sombras os candeeiros trémulos e cinzentos, o motor a diesel em espasmos nos ciclos de Rankine morre; a morte,

 

O relógio de pulso nos braços de uma árvore

As folhas despregam-se das gotinhas amargas da pele

E pavimentam o chão térreo do jardim

A língua silenciosa enrola-se no céu-da-boca

 

Na garganta uma janela cerra-se e a respiração cessa

Cai nos pulmões a noite transparente da lua

Os olhos em lágrimas percebem que é o fim

E tudo à sua volta deixa de fazer sentido

 

A árvore desiste de lutar com o vento

E torce-se no infinito emagrecer da noite

Uma criança em auxílio

Abraça-a

 

Não tem força

As raízes desamaram-se da terra

A árvore inclina-se na maré cintilante das estrelas

E deita-se na cama da dor

 

Os pássaros despendem-se dela

Vem o lenhador e corta-a em pedacinhos

O alimento preferido

Da lareira no inverno

 

As cinzas que alimentam os barcos enferrujados

Quando o pôr-do-sol não vem

A árvore morta

Na sombra emersa do cais onde me afogo.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:21

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