Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

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Jul 11

Ai a loucura senhor

O prazer de dormir nos braços da paisagem

O cansaço dos lábios em sabedorias sopas de mel

A viagem infinita na sombra tua pele

Ai senhor

A loucura de criança

Nas pétalas em flor

Das pétalas da lembrança,

 

O rio que me esmaga o coração

Os socalcos dos seios poisados em silêncio navegar

Nas entranhas minha mão

Quando afagam as ondas do mar,

 

Ai a loucura

Senhor

Amar uma mulher embainhada de literatura

No meu corpo sem dor

Quando os olhos do mar

Se fingem adormecidos em barcos a motor

Senhor,

Deixai-me amar esta mulher

E acariciar-lhe os lábios de malmequer,

Deixai-me sonhar,

Senhor!

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:37
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Solicitude magnética de um olhar

Quando o sol adormece na montanha

O rio abraçado ao mar

O rio que corre e ninguém o apanha,

 

O rio é o Douro

Engasgado nos socalcos da miséria,

 

Nas curvas dos carris cansa-se o comboio ensonado

Quase que dorme quase que engole a paisagem

Quase deitado

No leito da viagem,

 

O rio é o Douro

Engasgado nos socalcos da miséria,

 

O rio encurvado, rasgado, o rio de janela aberta

Nas paredes humedecidas do xisto do dia

O rio que me afoga na morte certa

Quando o silêncio junto à noite alumia,

 

O rio é o Douro

Engasgado nos socalcos da miséria,

 

O rio é o sangue que caminha na artéria.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 17:57

Palavras,

 

- Que nascem em mim e que detesto e acho-as horríveis, inférteis gotinhas de suor do meu cérebro doente e cansado, as palavras, o lixo da minha doença, os resíduos da minha cabeça,

 

O meu desejo, escrever no teu corpo acetinado e projetar as palavras no espelho mágico do teu quarto, abrir a janela e olhar o silêncio do mar, olhar os barcos e fingir que são gaivotas sobre a água e pegar no teu sorriso de concha doirada e pintá-lo da cor do céu, desenhar-lhe estrelas, buracos negros e galáxias, a lua, poisar a lua num dos teus seios e o sol no outro seio, o meu desejo, simples, humedecer as linhas longínquas do papel com a minha mão encardida pela poeira dos dias, e deixar nos teus olhos as nuvens da manhã, e no teu umbigo assinar a tela do teu corpo,

 

Gostas do meu desejo?

 

- Menos Francisco, menos…, um simples abraço é suficiente!, sinto a frase despregar-se dos lábios doces de amêndoa da noite,

 

A saudade imperfeita nas horas cansadas do relógio de pulso, a música melódica dos teus braços quando se suspendem no meu peito, os meus ramos tingidos de desejo, as minhas raízes que vacilam no vento do teu perfume quando sais do banho, a toalha do meu corpo que se enrola no teu corpo, e as letras que escrevi nele começam a incendiar os móveis da tua casa, o fumo em gemidos transparentes, o fumo que se dissipa da tua mão e por detrás da minha cabeça sinto crescer o texto trazido pelo mar,

 

- Menos Francisco, menos,

 

O pôr-do-sol, as amarras despidas na ponta de uma cana de pesca, dobra-se e afoga-se no rio, mistura-se com as algas da tarde, dás-me a mão e caminhamos margem fora sem destino, paramos a meio caminho, e olhamos um para o outro, tu ris-te de mim e da minha figura de parvo, e eu, eu beijo-te a face na despedida da doença, a doença morre, e nós debaixo de uma árvore, toalha de silício sobre a caruma do fim de tarde, o mar de Luanda que nos espreita, e em pedacinhos comemos a doença que deixou de te atormentar, que deixou de te fazer sofrer e chorar,

 

E depois, e depois de a comermos o abraço dos nossos corpos e da tua voz poética emergem as palavras do meu desejo,

 

- Valeu a pena, Francisco, valeu a pena!

publicado por Francisco Luís Fontinha às 16:00

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