Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

01
Ago 11

A vida é uma roda dentada

Que gira e gira e gira sem parar

A vida às vezes não é engraçada

Mas não podemos deixar de lutar,

 

E quando a roda dentada entra em fadiga

A vida em pedacinhos como o papel

O nosso corpo mendiga

À procura de um batel,

 

A roda gira e gira e gira sem parar

E a vida às cambalhotas nos dias sem dormir

A roda dentada da vida recusa-se a trabalhar…

 

A vida é uma roda dentada

Umas vezes a sorrir

Outras vezes cansada.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:32

O caos entra-lhe pela janela e os objetos levitam no compasso de espera entre o cortinado e a sombra na parede, uma abelha poisa-lhe na mão e avisa-o que notícia grave está para chegar, ele encolhe os ombros, dá uma palmada na abelha e esta some-se pela claridade da casa de banho, da sanita começam a emergir moedas de cinco cêntimos e ele na espectativa que brevemente surjam notas de quinhentos euros, diamantes e chã da pérsia, ou quem sabe um poço de petróleo,

Sonhou que dentro do crocodilo em pau-preto existia um fundo falso onde habitavam diamantes, pega no bicho, deita-o sobre a mesa de pernas para o ar e de martelo e formão começa a esquartejar o animal em pedacinhos, a autopsia a meio quando o animal subtrai-se em ais, um pano embebido em clorofórmio resolve-lhe o problema e o bicho volta a deitar a cabeça sobre a mesa da sala e fica em silêncio, e ele pensava onde diabo estará o fundo falso com os diamantes, e quanto mais procurava mais buraquinhos o bicho ficava e quando percebe o bicho desfeito em faúlha e cinza, os dentes de marfim poisados no cinzeiro e quanto a diamantes, quanto a diamantes nem de fantasia,

Mas eu sonhei, lamentava-se ele, espera aí, não seriam as conchas que trouxemos de S. Tomé e príncipe?, a tentar trazer o sonho à realidade, mas aos poucos desistia porque dentro de conchas não se podem esconder diamantes e estas só servem para ouvir o mar,

Vai à cozinha, procura a piaçaba e a pá do lixo e num abrir e fechar de olhos esconde os restos mortais do animal, embrulha-os em flanela cor de uva apodrecida e lança-os ao mar onde se passeiam barcos com remela nos olhos e pingos no nariz, e queria a deus que eles não descubram que esquartejei o bicho com mais de sessenta anos, segredava ele aos barcos,

Entra em casa e corre para a casa de banho, monta guarda à sanita não vá aparecer alguma nota de quinhentos euros e ninguém para a receber, e depois de tanto refletir muda-se de armas e bagagem para a casa de banho; onde come, onde dorme, e onde passa o dia.

Uma semana depois ainda nenhuma deu à costa, e os barcos continuam a passear de remela nos olhos e pingo no nariz, e de vez em quando um submarino sai da sanita, vai à janela e deita um sorriso às nuvens estacionadas sobre o mar,

O caos entra-lhe pela janela e os objetos levitam no compasso de espera entre o cortinado e a sombra na parede,

E das notas nem sinal.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:45

Hoje é o dia mais feliz da minha vida! E perguntam-me, Encontraste trabalho?, repondo que não, não encontrei trabalho, E perguntam-me, Acertaste no euro milhões ou no totoloto?, respondo que não, não acertei no euro milhões nem no totoloto, E perguntam-me, Tens dinheiro na algibeira?, Respondo que não, não tenho dinheiro na algibeira,

 

- Então qual a razão de hoje ser o dia mais feliz da tua vida?,

 

Porque estou vivo, não estou doente e todos os dias ao acordar tenho quem me diga,

 

-Bom dia, filho.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 15:42

As poucas palavras que existiam em mim

Começam a extinguir-se dentro de uma caixa de sapatos

As silabas e as vogais e as flores

Morrem e os pássaros caiem do céu

 

As estrelas cessam de brilhar

E o sol desfaz-se na manhã em pedacinhos

As árvores desistem da terra

E tombam no silêncio…

 

A noite acorda e fica sempre noite

O mar perde a ondulação

E os barcos afundam-se como o xisto lançado da montanha

A minha mão deixa de acariciar o teu rosto

 

E o meu corpo evapora-se no infinito

Misturado com cinza de cigarro e arrotos de vodka

A janela fecha-se para sempre

E deixo de ver a luz

 

As poucas palavras que existiam em mim

Começam a extinguir-se dentro de uma caixa de sapatos

E percebo o erro de ter nascido

E quando me é perguntado o que tenho a dizer em minha defesa…

 

– INOCENTE excelência, INOCENTE.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:43

Agosto 2011
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6

7
8
9





Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds
Posts mais comentados
mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO