Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

02
Ago 11

Dom luís de francisco e francisco passeava-se e passeia-se pela rua deserta do burgo quando da sombra surge uma embarcação de mercadorias e com destino ao porto dos confins da alvorada, dom luís estranhou tamanho barco por aquelas bandas e o pior é que num dos mastros tinha pendurado um crocodilo de pau-preto, Estranho, segreda dom luís de francisco e francisco às bananeiras que o olhavam no quintal e governado pelo REX rafeiro e pelo NOQUI são bernardo importado da suíça, dom luís passeava-se de calção de malha preto e justo, ia descalço para poupar nos pneumáticos e na orelha levava uma argola semelhante a uma roda dentada, e no dedo, no dedo um cravo de uma ferradura que tinha trazido quando menino de lisboa,

O mar em aflições nos calhaus e rochas adornadas, e a embarcação derrapava na espuma da carqueja e das mimosas em flor, o chã para emagrecer as nuvens no bule de zinco adquirido a um marroquino que às vezes em visita ao burgo troca bijutarias por garrafas de vinho, e o chã servido em chávenas roubadas na loja do chinês, e as nuvens diminuem de tamanho e desparecem no horizonte, e o sol volta a sorrir nos olhos de ray-ban e soutiens com bolinhas negras e diminutos furos para a refrigeração das mamas,

O capitão da embarcação aproxima-se de dom luís de francisco e francisco, pede-lhe um cigarro e enquanto este efetua buscas sucessivas aos alforges o capitão em voz sossegada faz-lhe a proposta Se dom luís conseguir tirar-me o crocodilo pendurado no mastro dou-lhe toda a mercadoria, e nem hesitou, dom luís salta para a embarcação, aproxima-se do mastro, poisa os calções de malha e os pneumáticos no soalho e começa a trepar o pau ensebado da noite, e vai magicando enquanto vai subindo vagarosamente, milímetro a milímetro,

Isto é canja, ai que não é, é só chegar lá cima, pregar uma bofetada ao crocodilo e descer com ele desmaiado,

E quando dom luís a meio e o bicho já lhe mostrava os dentes de marfim o pau ensebado da noite começa a murchar, e dom luís e o crocodilo em pau-preto estatelados contra os pipos de vinho, pedras preciosas e alicates para os dentes, o bicho em queda livre pelo granito adormecido do cais e dom luís a ver o céu estrelado do burgo,

O capitão cruza os braços e diz para dom luís de francisco e francisco Já me fodeu o barco todo!, e este ainda meio tonto do vinho responde-lhe que não teve culpa, conseguiu tirar o crocodilo do mastro e que tem direito a receber toda a mercadoria, e o capitão aos pontapés aos candeeiros de petróleo,

Você deve é ser maluco, receber toda a mercadoria?, rosnava o capitão às patas do rafeiro e ao rabo do são bernardo, Você devia era indemnizar-me,

E a voz do capitão a entrar por um ouvido de dom luís e a sair pelo outro,

E dentro de dom luís de francisco e francisco erguia-se um queixume nos dentes e uma silaba na língua,

E enquanto procurava no soalho os calções de malha e os pneumáticos começavam-lhe a sair da garganta pequenas frases, Quero lá

Saber

Do

Caralho do barco.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:19

Quando se ama

Perdoa-se a fúria das flores

E desejamos que da fogueira em chama

O vento construa amores,

 

Quando se ama

Não importa se a nuvem está triste ou a sorrir

Ou cansada dos fados de alfama,

Quem ama deseja construir

 

Uma casa em madeira

Entre os socalcos e o rio sonhador,

Ler um livro à lareira

 

Caminhar junto ao rio no amanhecer,

Quando se ama com amor

Não damos conta de a vida morrer…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 15:40

Cristo ressuscitou, desce pausadamente da cruz, olha-me e sorri-me, eu não acredito no que estou a assistir e penso que é mais um dos meus sonhos complexos,

Sempre me lembro existir um cristo pendurado na parede, coisas da minha mãe, uma nossa senhora de Fátima em ponto grande, uma lamparina alimentada com azeite de Trás-os-Montes e muita fé, e da fé nunca consegui alimentar o estômago, mas respeito aqueles que têm fé e acreditam, mas nunca me passou pela cabeça que o cristo ressuscitasse e me viesse visitar, pensei, Será que traz novidades? E ele questionava-se enquanto olhava o senhor em pingos de sangue e olhos cansados, Em quarenta e cinco anos e só agora?,

A minha mãe diz-me, Ajoelha-te meu filho, e eu como bom filho ajoelho-me, procuro-lhe a mão que ainda sangra e beijo-a, E agora mãe o que faço, pergunto-lhe, Nada diz-me ela, Nada?, Ouve apenas o que ele tem para te dizer, e vem-me logo à ideia que coisa boa não será certamente, porque sendo assim teria ressuscitado na casa do vizinho,

Mas educaram-me a saber ouvir os outros, mas educaram-me a respeitar as ideias dos outros, mas educaram-me na lengalenga que somos todos iguais e que todos temos as mesmas oportunidades, e é mentira, uns nascem com o rabo virado para a lua, e outros, outros como eu nascem com o rabo entalado entre dois seixos, e nunca perguntei porque razão o meu vizinho com quem brincava era preto, porque para mim ser preto ou branco é a mesma coisa, ser gay ou lésbica ou heterossexual é a mesma coisa, ser pobre ou rico é a mesma coisa, todos somos seres humanos, todo o ser humano precisa de comer sendo rico ou pobre, e todo o ser humano quando chega a hora de defecar, seja rico ou pobre defeca, possivelmente o rico numa sanita caríssima e o pobre de rabo au léu pelas fendas das carquejas, mas se analisarmos os resíduos quer de uns quer de outros poucas ou nenhumas diferenças, apenas merda, e tanto morre o rico como morre o pobre e eu fico muito feliz por saber que toda a fortuna do rico não chega para pagar a vida, e quando chega a hora, tomba como os outros, porque se fosse compra a vida muitos já o tinham feito, bastava uma OPA sobre deus e vida eterna,

Mas felizmente que deus não é cotado em bolsa,

Cristo de tanto me ouvir pergunta-me, E porque és assim?, eu respondo Assim como?, Assim herege!,

E no fim de conversarmos amigavelmente cristo diz-me que tinha descido da cruz para me informar que eu não devia desistir,

E eu respondo-lhe que não vou desistir…

Porque desistir é morrer.

 

(este texto é de ficção e qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência e especulação)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:18

A barcaça do meu corpo

Perdido em noites de loucura

Os meus braços procuram

O porto da amargura,

 

E canso-me da procura

E farto-me da geada de inverno

O mar em fúria dentro de mim

Dentro de mim o inferno,

 

Canso-me do sol e do verão

Canso-me do mar onde nasci

Canso-me de mim

E tudo que tinha perdi,

 

A vontade de caminhar

As palavras para escrever

Ainda não perdi os sonhos de sonhar

Nem a vontade de viver,

 

A barcaça do meu corpo

Um amontoado de aço enferrujado

O silêncio quando a noite desaparece

E as flores olham-me no xisto esmigalhado…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 10:45
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