Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

03
Ago 11

Tenho dias em que me apetece fugir

Dias que quero gritar

Tenho dias em que me apetece partir

Nos dias do fundo do mar

 

Tenho dias de prazer

Dias de chorar

E tenho dias em que me apetece morrer

Nos dias do fundo do mar

 

Tenho dias de sonhar

Dias de amar

E dias de embarcar

 

Tenho dias em que me apetece esconder

Dentro dos dias ao acordar

Tenho dias em que me apetece viver

Nos dias do fundo do mar

 

Gosto praticamente dos dias de amar

Dos dias em que quero viver

Nos dias do fundo do mar

Em dias de sonhar

Dias a escrever…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:12

Na procura dos finíssimos pingos de água da madrugada a trapezista e malabarista dona Joaninha mulher dos seus cinquenta anos e trinta de varizes e de enxada na algibeira sobe ao castelo, pendura-se no arame do nascer do sol e em equilíbrios mansos atravessa o teto da aldeia,

 

Subtrai as meias às pernas e liberta as coxas das cuecas ensopadas no suor dos seis mangalas que horas antes tinha consulado e recebido cinco euros por cabeça simplesmente para deixar que mãos embaralhadas de cerveja e amendoins poisassem nas mamas desgostosas dela, um deles pergunta-lhe se mais logo pode voltar, responde que não, Só para a semana, porque vou de férias com o meu marido!,

 

Palhaço pobre que à nascença foi apelidado de desgraçadinho e enquanto o senhor vigário preparava o batismo a menina Eulália rebolava-o pelos centímetros de toalha que adormecia no altar da capela e numa reza desequilibrada concluía Este tem a vida cortada e será sempre um desgraçado!, cresceu e fez-se homem e bastava olhar uma rosa e a pobre da rosa tombava e em dois ais desparecia da tarde, casa-se com dona Joaninha no intervalo de um espetáculo em cena no bairro junto ao cascalho e pedregulhos de uma aldeia do Douro e das cambalhotas da dona Joaninha no trapézio e das palhaçadas no palco do senhor Augusto nasce uma fera indomável e irritante que sumiu-se um dia por entre nuvens e rajadas de vento e que dizem as más-línguas que é marinheiro num casco velho encostado ao tejo,

 

Para a semana viemos, um dos magalas a despedir-se da dona Joaninha, e em conversa com a roulotte dona Joaninha explica-lhe que para a semana possivelmente estará noutra localidade, porque é assim a vida de artista,

 

O vento em línguas de desassossego e o corpo de dona Joaninha soluça sobre a torre da igreja, o arame chia na noite, cansada de ser apalpada por seis esfomeados fica indecisa, continuar até ao extremo, ficar em suspenso, ou lançar-se sobre o crucifixo metálico pendurado na torre da casa de Deus, e nem uma cisa nem outra,

 

Joaninha, tens aí cinco euros que me emprestes? Pregueava o senhor Augusto na convalescença entre um copo de tinto e uma garrafa de vodka,

 

E da enxada nascem asas numa estrutura de arame e revestidas a algodão, o corpo eleva-se e em pequeníssimos voos e em curvas apertadas percebe que a aldeia diminuiu e responde ao senhor Augusto,

 

Não, não tenho cinco euros.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 16:47

As nuvens de luanda

Nas mãos do cacimbo

Papagaios em demanda

No silêncio do limbo

 

E ao fundo da rua o mar

A ilha dos amores

As gaivotas a saltar

Os jardins com flores

 

As nuvens de luanda

O capim verdejante do amanhecer

A sanzala que não anda

 

Na manhã desgovernada

Que não quer ver

As nuvens de luanda em pedacinhos de nada…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:03

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