Quando bebé caí do colo da minha mãe, noites inteiras sem dormir, possivelmente devido às palavras que começavam a acordar, e um certo dia, uma certa tarde, numa determinada cidade, e num determinado bairro, a minha mãe coitadinha, fica-se a dormir em pé, eu lanço-me dos braços dela e aterro no pavimento, apenas ouvi da boca dela Ai o meu filho!, eu cá para mim, Tenha calma mãe, está tudo bem, sou duro como os cornos dos bois, e Teimoso, diz-me ela enquanto me apanha do chão,
Também eu, noites e noites sem dormir, adormeci ao volante e enquanto o IP4 quis eu lá fui até que acordo já o carro se tinha estacionado juntos aos railes, e dos railes oiço a voz do aço Para onde vais rapaz?, para Bragança respondo-lhe ainda a abrir os olhos, e eles concluem Para Bragança é pela faixa de rodagem!, peço desculpa, e a porta do lado direito com os queixos inchados e pensei Talvez seja dos dentes,
E desde que me deixaram cair nunca mais fui o mesmo, cismava em meter os dedos nas tomadas da eletricidade, começava a construir papagaios de papel e ainda com poucas horas de voo os acidentes fatais de aviação, enrodilhavam-se nas mangueiras, e estatelavam-se na terra húmida da tarde, e tinha um boneco e eu com as manias que era estilista, sentava-me junto à minha mãe a inventar roupa para o chapelhudo, fazia o molde, cortava o tecido, e de agulha e dedal as minhas coleções primavera/verão, modelos lindíssimos,
Talvez alguém pense ser lindo este texto de ficção, mas o que me chateia é que tudo aconteceu e foi verdade; caí mesmo do colo da minha mãe, ela coitada, com o cansaço adormeceu em pé, e verdade verdadeira adormeci ao volante e bati nos railes, e sim, sim, tinha um boneco chamado chapelhudo e era eu que lhe fazia as roupas. E conta-me a minha mãe que eu tinha jeito para a coisa das roupas, tinha, porque agora nem pregos espeto nas oliveiras, pregos nas oliveiras é com ela, nem atiro pedras ao fumo do enxofre e quase que rachei a cabeça ao coitado do “Peleira”, a minha sorte foi acertar na máquina do enxofre…