Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

09
Ago 11

O senhor abade despe as calças e pausadamente pendura-as no cabide metálico do guarda-fato, a irmã Rosário olha-o e em rezas traiçoeiras engasga-se quando da janela vê uma gaivota que bate com o bico e em altos berros O mundo vai acabar!,

 

Depois de efetuado o sorteio calhou ao senhor abade dormir no chão e à irmã Rosário, que devido ao elevado estado de decomposição dos pesadíssimos anos, dormiria na cama enfeitada com canapés e arroz de feijão, o cheiro que da cozinha comunitária chegava ao quarto, o senhor abade benze-se e de joelhos Meu deus, dai-me saúde e forças para continuar a minha caminhada, e a prece felizmente concretizou-se, deus deu forças ao senhor abade para continuar a sua caminhada, e ao contrário dos agoiros da gaivota à janela e que a irmã Rosário foi testemunha, o mundo não acabou,

 

Isto é, o mundo termina para os que morrem,

 

A irmã Rosário para o sacerdote que tinha acabado de colocar as duas mãos sobre o peito a anotar na caligrafia da noite a cadência do bater do coração, desde muito novo apaixonado por deus, e quando duas pessoas se apaixonam pela mesma pessoa começam os trabalhos, os olhares infindáveis à porta de entrada da farmácia, as saídas mensuráveis dos pés trôpegos na despedida da tasca, o subir e descer de uma janela na calada da noite, as perdizes escondidas debaixo das oliveiras quando os caçadores ainda ensonados passam e fingem que nãos as veem,

 

E deus que sempre esteve comigo vai ajudar-me!, as palavras interiores do vigário-mor Benjamim António, nascido e criado na Sertã, afoitado pelas pedradas lançadas às patas da malhada, a pobre e cansada ovelha que sofria de esquizofrenia, e que em cada esquina da rua acreditava ver autocarros com o número 307 e meninas a brincar com triciclos, e nas horas mortas do pasto, alimentava o tempo a espetar pregos nas oliveiras, Safada da ovelha, agachada nos cobertos a irmã Rosário com o rabinho entrelaçado na sombra da parede,

 

E quando o senhor abade termina a contagem do batimento cardíaco já a irmã Rosário ressonava parecendo mais um sino de igreja a vomitar horas do que uma devota de deus, escreve no caderninho Cento e vinte pulsações por minuto, fecha o caderninho em silêncio, poisa junto ao rodapé a esferográfica, e passados alguns minutos com os olhos fechados vê à sua frente a irmã Rosário que se passeava pelo quarto com um terço enrolado pela mão,

 

A irmã sente-se bem?, o abade em reza noturna para a irmã Rosário, e esta responde-lhe que sim Estou bem, irmão!, apenas perdi o sono com o debicar daquela estúpida gaivota no vidro da janela, o abade furioso responde-lhe que a gaivota pode ser um sinal de deus, a irmã Rosário suspende-se entre o candeeiro e a janela e responde-lhe, Irmão, acha que são horas de deus enviar alguém?, o abade retira as mãos do peito, vira-se contra a parede e responde à irmã rosário,

 

Todas as horas são boas para recebermos os sinais de deus!, às vezes nós é que andamos distraídos…

 

(este texto é de ficção e qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência e especulação)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:26

As pétalas dos teus braços,

Meu amor,

Quando o vento em cansaços

Tomba uma flor,

 

E no chão deitada,

Meu amor,

Ela acredita erguer-se da calçada

E expulsar das suas mãos a dor,

 

As pétalas dos teus braços,

Meu amor,

Parecem adormecidas em sargaços,

 

Dilatadas na manhã sem dormir,

E grito alto ao acordar, meu amor,

- Preciso de ti a sorrir…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:09

Não sei se estou a dormir

Não sei se estou acordado

Não sei se quero partir

Deste silêncio amargurado,

 

Não sei se quero viver

Não sei se quero caminhar

Não sei se posso morrer

Nesta terra sem mar,

 

Não sei o que é o amanhecer

Não sei o que são noites com luar

Não sei se as abelhas me querem morder

Ou apenas me beijar,

 

Não sei e não quero saber

Se a terra é redonda ou quadrada

Apenas quero viver

Nos braços da minha apaixonada…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 10:55
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As silabas envenenadas

Entre os seios da montanha

E de portas escancaradas

As palavras com ronha e manha,

 

O papel onde escrevo emagrece

Desce nas profundezas do oceano

As palavras que toda a gente esquece

No final de cada ano,

 

E de um barco amordaçado

Uma vela espera pelo vento

As silabas que no teu corpo dependurado

Dão à palavra vida e movimento…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 09:32

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