Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

11
Ago 11

(para ti)

 

Os dias da vida

Em dias de sonhar

Nos dias da partida

Os dias sem mar,

 

Temos gaivotas voadoras

E silêncios de encantar,

 

Os dias da vida

E o comboio na despedida

Os dias dos carris entrelaçados

Em dias abraçados,

 

Temos gaivotas voadoras

E silêncios de encantar,

 

Os dias da vida

Em dias de sonhar

Em dias que me perco

Nos dias que me escondo debaixo do mar,

 

Temos gaivotas voadoras

E silêncios de encantar,

 

Não esquecendo…

Arroz de feijão e pão

Pataniscas com limão

E sonhos ao jantar,

 

Porque nos dias da vida

Há tardes sonhadoras

E noites de amar,

 

Os dias que vou vivendo

Nos dias que me faltam caminhar…

Dos dias abaixo do mar.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:58

O casebre que me acolhia emagrece junto à ribeira, portas e janelas desapareceram na tempestade, e o cabelo levou-o o vento, o corpo em frinchas despidas quando o luar amanha a ceifeira das estrelas, e na seara do céu as nuvens suspiram os cigarros amarrotados com tosse, gritam-me do escuro penedo onde alguém se esconde Que saudades da sua sombra, menino!, e não deve ser para mim, penso eu, vinte e três anos de ausência já ninguém se deve lembrar que por estes socalcos brinquei e adormeci,

 

A mulher agachada no peso da coluna e em curvaturas mais parecendo um C sem cedilha diz-me que nunca me esqueceu, sempre me tratou por menino e ainda hoje, muitos anos após a sua partida para o desconhecido, me trata por menino, Que saudades, menino!, e reconheci logo a velha Adosinda que nas tardes de inverno se encolhia na cama e afugentava a geada com os cabelos brancos, e quando chovia, encostava-se à parede para se esconder dos pingos,

 

As teias de aranha decoravam-lhe o quarto e nos silêncios da noite junto ao rodapé passeavam-se ratazanas, o gato marreco ausentava-se e escondia-se no medo, e quantas vezes não mergulhou ele pelos buracos do soalho e aterrava na loja fria e escura, ligava-se o interruptor do candeeiro da sala e acendia-se a luz do rés-do-chão, fios trocados diziam-me os eletricistas, e o gato marreco sempre à escuta das ratazanas,

 

A velha Adosinda e tia, e mais velha do que tia, e tia que velha, esperava-me no fim da tarde sentada no seu majestoso trono de cobertores, eu entrava devagarinho, poisava a pasta onde guardava a ardósia e a bata azul, aterrava suavemente na cama, e quando saía minutos depois com dois escudos e quinhentos e outas vezes com cinco escudos, eu pensava Não entendo nada do que esta mulher me diz!, e ainda hoje não encontro na literatura palavras iguais, muitos diziam que era louca, hoje acredito que o problema dela era incompreensão e solidão, e na tarde que me presenteou com vinte escudos foi uma festa,

 

Música, danças de salão, cigarros que se compravam avulso, rebuçados e caramelos, e com o troco ainda saboreava a minha paixão, desço a rua, e na papelaria do velho Grifo São três saquinhos de cromos, senhor grifo!, ouvia umas quantas histórias, rimas de arroz com feijão e pão e João, e depois de aviado desço até às searas do Bairro do Hospital…

 

E se hoje sou um grande apaixonado por literatura devo-o ao filho do velho Grifo, e tal como eu sou Luís, também ele é Luís, e que sempre me aconselhou os melhores escritores de todos os tempos, e se não fosse ele, se não fosse ele nunca me tinha cruzado com Milan Kundera, Saramago, Lobo Antunes e tantos outros.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:44

O silêncio dói

Na pedra que esmaga e mói

Quando a noite se ausenta

E a tarde não foi,

 

E nas acardas

Meus versos emagrecem

Nas palavras que esquecem

As flores no campo deitadas,

 

O silêncio que me mata

E me entra pela garganta

Quando a nuvem tapa

E o céu aumenta,

 

No silêncio que dói

Dos momentos infinitos

E uma menina se abraça

Aos cansaços da tarde,

 

No silêncio que dói

Nos escurecidos labirintos

Quando do mar a barcaça

No pôr-do-sol arde.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 15:17

Que a manhã se transforme em amor

E a tarde abelha em flor

Que o vento deixe de voar

E as ondas cessem no mar,

 

Que os barcos não se afundem

Não fiquem enferrujados

E as lágrimas sejam a chuvinha da tarde,

 

Que a manhã seja o mar

E a tarde os lábios poisados no orvalho

Que a tua dor deixe de acordar

Na sombra do carvalho,

 

Que nos nossos corpos que se fundem

Cresçam os desejos amados

Na fogueira que arde,

 

E a tarde que nos abraça

E o rio que nos engole

O teu corpo se desenlaça

Do meu corpo mole…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:45

Amar as flores nos teus cabelos em vento

E de beijos o alimento

O sargaço da tua mão

Quando a manhã se dissipa do meu coração,

 

Beijar-te como uma gaivota

Ensonada sobre o mar

Nas caricias do teu corpo

Nos teus lábios em revolta,

 

Amar-te sem pensar

Quando nuvens se encastram nos teus seios madrugada

Meu amor à beira mar

Quando procuro a tua boca cansada,

 

Agarro-te como se fosses uma árvore alicerçada

No meu corpo emagrecido

Ou uma gaivota apaixonada

Que palmilha as pedrinhas da calçada,

 

Meu amor que me esperas junto à montanha despovoada

Entre o rio e socalcos encalhados

Meu amor que te quero

Sobre o meu peito deitada,

 

E amar eternamente

Os teus olhos de diamante,

 

Ai meu amor!

Qua a luz nos abrace

E do mar cresçam silêncios…

E no teu sorriso acorde uma flor.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:05

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