Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

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Ago 11

Dá-me a tua mão, Etelvina, dá-me a tua mão e não me deixes abraçar às gaivotas que se penduram no parapeito da janela, e a tarde desabotoava os botões de silêncio, das coxas embebidas em suor as migalhas de desejo em busca do nada, e no púbis descia lentamente a tempestade, e o mar começava a escorrer pelos socalcos, seminus, entre a boca e o umbigo, e oiço os gemidos dos teus olhos enquanto os plátanos se enroscam à relva, e crianças gatinham junto aos teus pés,

 

Meu amor,

 

Conheci um louco mais louco do que eu, atravessava as paredes da enfermaria, juntava os pés e as mãos, baixava a cabeça ao nível dos joelhos, e com meia dúzia de palavras, zás, ele já deitado na cama da enfermaria vizinha, e a olhar pela janela o jardim de Maio,

 

Até à volta, meu amor,

 

O doutor dos malucos em decretos e circulares e papéis afixados nas paredes, Proibido juntar os pés e as mãos, Proibido baixar a cabeça ao nível dos joelhos, Proibido falar, e Diga-me lá enfermeiro, diga-me lá da sua justiça, é que se não começamos a meter na linha estes gajos quando dermos conta andam todos a atravessar as paredes!, olhe doutor Ainda ontem escapou-se-me um pela parede da casa de banho, o doutor nem queria acreditar Pela parede?, pela sanita vá lá que não vá, agora pela parede…

 

Eu criança, e o Armando, velho, eu homem, e o Armando o mesmo velho, e eu pensava Será que ele nasceu assim?, e não sei, “Armando dos Anjos Cardoso Rufino”, doutorado em contador de estórias, graduado em Filosofia, engraxador nas horas mortas do dia e com escritório no Café da Paz, e quando saía da escola a sandes de fiambre do tio Francisco à minha espera, dama de honor nas curvas e contra curvas das estradas do Concelho de Alijó, consultava os oráculos e as estrelas, sabia ler o futuro e reinventar o passado, e um certo dia depois de consultar o zodíaco chegou à conclusão que seria magnifico para passear e andar ao ar livre, Acredite, dia magnifico para passear e andar ao ar livre, era o que dizia o meu signo,

 

Saí de casa em direção ao Campo Meão, e já quase nos calcanhares dos depósitos começa a chover tanto, Acredite, nunca vi tanta água na minha vida, volto para casa, dispo-me, a roupa acabada de sair do tanque junto ao Matadouro, e em frente ao espelho Juro que nunca mais acredito nos signos, Que aldrabice…

 

Meu amor,

 

Dá-me a tua mão, Etelvina, dá-me a tua mão e não me deixes abraçar às gaivotas que se penduram no parapeito da janela, e não te preocupes, aqui tratam-me bem, mas sinto tanto a falta dos teus abraços quando a tarde se despede e do céu começam a cair faúlhas e silabas, e o cortinado começa a descer lentamente até se deitar no soalho, e quando olho para o lado, olha meu amor, o doido do Zé acabou agora mesmo de atravessar a parede…

 

Brevemente nos teus braços,

 

 E,

 

As gaivotas que se penduravam no parapeito da janela, e a tarde desabotoava os botões de silêncio, das coxas embebidas em suor as migalhas de desejo em busca do nada, e no púbis descia lentamente a tempestade…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:01

As rosas, meu amor,

Que do teu jardim se alimentam

E nas gaivotas em dor

Nos meus braços se lamentam,

 

No meu corpo crescem desejos

E da tua mão silêncios ao amanhecer

Na tua boca, meu amor, os beijos

E a vontade de viver,

 

O dinheiro que nos falta

No amor que sobeja

Há tanta gente, meu amor, a chatear a malta

E que morre de inveja…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:48

Misteriosamente o blog irmão deste em Portugal desapareceu dos destaques nos blogs do Sapo local, não escrevo e nunca escrevi para ser destacado, mas já o fui, e um dos meus poemas foi vencedor no dia 21 de Março (dia mundial da poesia), e misteriosamente, semanalmente o blog com o mesmo conteúdo e nome, mas no Sapo Angola, é destacado, e aparece frequentemente na rede, e obrigado à Teresa Alves que concebeu um template específico para o mesmo, e obrigado ao João Moreira de Sá por gostar dos meus textos e poemas, ambos da equipa dos blogs Sapo.

 

Há mistérios que nem Deus consegue desvendar, e há textos e poemas que são de destaque para os Angolanos, e talvez os considerem uma merda para os Portugueses, mas a vida é feita de mistérios, e em Alijó, em Alijó há mistérios que nem Deus consegue desvendar…

 

Obrigado à Teresa e ao João por acreditarem em mim.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:02

Os barcos que brincam

Quando a tua mão poisa nas nuvens

E do pôr-do-sol a noite

E na noite emerge o teu peito no luar,

 

O dia termina em cansaço

E o meu relógio de pulso sente o teu olhar

Meu amor, preciso de um abraço,

Antes de olhar o mar…

 

E deitar-me na areia finíssima de Luanda

Engolir sombras de mangueira em demanda

Pegar no meu papagaio de papel

Que nos céus se suspende do cordel,

 

Os barcos que brincam

Nos teus seios despidos na madrugada

E os teus lábios que mastigam

Silêncios de nada,

 

Os barcos, meu amor,

Que se passeiam no Tejo,

E o teu corpo transforma-se em barco

Que no mastro habita uma flor…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 10:27

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