Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

17
Ago 11

Chamava ao silêncio noite, e à noite desassossego, apelidava o dia de tristeza, e quando acordava, antes de abrir os olhinhos, cruzava os braços sobre o peito, sacudia as pernas das migalhas do sono, e gritava,

 

- Estou vivo,

 

E tem dias que lhe apetece dizer Porra, hoje estou morto!, e alguém descobre que é o contrário de estar vivo, que ele pensa que não, e eu, o autor deste texto, igualmente que não, estar morto não é o contrário de estar vivo,

 

- Porra, hoje estou morto!,

 

E pode ter a certeza que já vi com estes olhos que um dia a terra vai comer mortos com aspeto de vivos e vivos, ai senhor, vivos que mais pareciam mortos,

 

Mas deixamos os mortos e os vivos e vamos às coxas do mar quando ao fim da tarde os barcos preparados para aportar, e as coxas silenciam-se como alicates a torcerem os ponteiros do relógio, ele de mangas arregaçadas e cachimbo na boca e em sinais de fumo, e do outro lado do rio, a prostituta marreca que via o dia chegar ao fim com meia dúzia de moedas na bolsinha, e feitas as contas nem dá para comer, ao preço que o peixe é pago na lota, queixava-se o Ernesto enquanto esperava pelas autorizações necessárias para a respetiva ancoragem e descarga,

 

- Porra, hoje estou morto!, e o António em resposta ao Ernesto É como no Douro, qualquer dia temos de dar as uvas de borla,

 

E vamos à tasca e pagamos bem caro o vinho, e vamos ao restaurante e pagamos bem caro o peixe, a prostituta marreca a revindicar  enquanto aguardava pelo sinal de Stop da pensão e autorização para subir até às águas-furtadas subsidiadas pela EU,

 

- E o que faz falta neste País (Portugal) são mabecos para morderem os tornozelos às sombras que vagueiam pelas esquinas e avenidas e coxas de mar e a puta que os pariu, e juro, senhor, juro que estive para perguntar à prostituta marreca a razão de estar tão zangada e querer mabecos, veja senhor, mabecos a pingar tornozelos, mas sabe, não tive coragem,

 

Chamava ao silêncio noite, e à noite desassossego, apelidava o dia de tristeza, e quando acordava, antes de abrir os olhinhos, cruzava os braços sobre o peito, sacudia as pernas das migalhas do sono, e gritava,

 

E uma outra voz nessa manhã gritou; Morreu o tio Ernesto…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:34

Mar que abraças a paisagem

E das tuas ondas cresce a maré

Mar da minha viagem

Preciso de força e fé,

 

Mar para eu acreditar

Que do amor dela

Nasçam gaivotas de amar

E brinque uma rosa amarela,

 

Tão linda e tão bela…

E digo ao mar

Vem mar vem mar da paixão

Senhor Obrigado por esta Cinderela

Senhor Obrigado por este coração

Senhor… se isto não é amor, O que é então?

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:58

Dentro das gargantas do inferno

O rio que se esconde da madrugada

E o frio e a geada

Que pausadamente esperam o inverno,

 

Perco a vontade de viver

E esqueço-me do mar

O que a vida me dá e o que me quer…

E percebo que a vida é uma roda que não se cansa de girar,

 

E tanto sobe como desce

Nas noites intermináveis quando as horas adormecem

E os meus olhos esquecem

A lágrima que aparece,

 

Dentro das gargantas do inferno

O rio que se esconde da madrugada

E quando nasce a alvorada

O mar fica eterno…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 16:32

Procuro-me dentro de uma caixa de mar

E pequenas partes de mim morreram

Pedacinhos de ondas amarrotadas na maré

E o meu cadáver que morre sem cessar,

 

Perdi a fé

Quando alguém tampa a caixa com o céu

E fico eu, e fica o mar, e ficam as estrelas…

Dentro da caixa em papelão de fim de tarde,

 

Procuro-me

Desencontro-me do perfume das abelhas em flor

E a tarde nos teus olhos arde

E incendeia o orvalho do amor,

 

Procuro-me dentro de uma caixa de mar

Infinita e escura

Cansada de amar

Cansada das noites de amargura,

 

E nasce em ti o silêncio do luar

E nas minhas mãos poisam as estrelas envenenadas

Tristes como a manhã ao acordar

Nos pedacinhos de ondas amarrotadas…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:28
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Porque me amas

Se eu não passo de um imbecil

Porque me amas

Se eu sou um miserável,

 

Está tudo errado, meu amor,

Tu, não me devias amar,

Sinto que para ti sou a dor

A turbulência do mar,

 

Porque me amas,

Meu amor,

 

Porque me amas

Se eu não passo de um imbecil

Porque me amas

Se eu sou um miserável,

 

Porque me amas,

Meu amor,

 

Quando vejo a noite adormecer

E ninguém me garante se vai existir o amanhã

Ou se a noite ficará sempre noite,

Até eu morrer,

 

E nas minhas mãos, meu amor,

O cheiro a pólvora dos cigarros esmagados na tempestade

Eu, meu amor, eu sou a tua dor…

Um imbecil e miserável, suspenso na saudade,

 

Porque me amas,

Meu amor!

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:56

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