Sabes, meu amor,
As acácias deixaram de romper o céu,
E o sol, o sol, meu amor, tem uma cor tão esquisita…
Os barcos de Luanda não navegam mais dentro de mim,
Meu amor, e no meu quintal não poisam papagaios de papel,
E o meu triciclo, meu amor,
Em pedacinhos de papel,
Nos fins de tarde junto ao Grafanil,
Nem jipes em corrida,
Nem carros que mastigam as horas,
Sabes, meu amor,
O céu não existe,
As árvores e as gaivotas, meu amor,
Tudo são sonhos,
Sonhos dentro de sonhos, meu amor,
Como quando eu corria pelo quintal em Luanda,
E agora percebo, meu amor,
Luanda foi um sonho…
E nenhum menino se deitava debaixo das mangueiras,
Que coisa, meu amor, uma criança deitada no chão,
A olhar o céu…
Vês meu amor, vês como eu tenho razão!
Como pode uma criança deitar-se no chão e olhar o céu…
Se o céu não existe, meu amor…