As silabas da tua boca
Nas acácias em flor
A água em terra pouca
Nas lágrimas do amor,
As silabas da tua boca
Quando nos teus braços me deito
E tu com olhar de louca
E eu cansado no leito…
As silabas da tua boca
Nas acácias em flor
A água em terra pouca
Nas lágrimas do amor,
As silabas da tua boca
Quando nos teus braços me deito
E tu com olhar de louca
E eu cansado no leito…
Deito-me homem
Levanto-me pássaro
E no intervalo
Entre o deitar e o levantar
Fico o mar…
Abro a janela e não sei voar
E ao deitar
Abro os braços e ajoelho-me
E não sei rezar
E entre o deitar e o acordar
Brinco com as gaivotas
E escrevo poemas nas vidraças,
Deito-me homem
Levanto-me pássaro
E a noite sem estrelas
E o sol a morrer,
E as escadas entupidas de sargaços
Engasgadas nos ponteiros do anoitecer
Abro os braços
E olho a lua a desaparecer,
O sótão que se afunda na escuridão
As escadas e os sargaços começam a voar
Deito-me homem
Levanto-me pássaro
E entre o deitar e o acordar
Fico o mar…
E ao levantar
Entra em mim a desilusão,
E pouca vontade de caminhar!
Entras pela janela
Poisas silenciosamente na minha mão
De ti crescem gaivotas em revolta
E de mim, em mim as tuas ondas enroladas,
O mar!
Onde cresci na tua espuma em delírio
E as tuas ruas finitas e sem saída
O mar em mim martírio,
O mar da minha vida…
Entras pela janela
Poisas silenciosamente na minha mão
E nunca vi coisa tão bela,
Os teus lençóis de seda
No pôr-do-sol da minha cama
Olho o teto…
E vejo as estrelas em chama…
Entras pela janela
Poisas silenciosamente na minha mão
Adormeço com uma rosa amarela
E do meu peito uivam os suspiros do coração.