Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

27
Ago 11

Nunca li um livro, O que são livros, Pai?, e tão pouco sei o que são livros, diz-me que é tudo mentira, Pai, É tudo mentira, Filho, os livros não existem, os livros somos nós sentados em bancos de jardim, Verdade, Pai, sim, Filho,

 

E uma menina que passeia junto ao mar, e eu seguro a mão do meu pai na baía de Luanda, e perguntava Levas-me ao mar, Pai?,

 

Ao mar, Filho?, sim, pai, Ao mar, O mar não existe, filho, Não existe?, Não, filho, não existe, Mas tu levavas-me a passear em Luanda, Em Luanda, filho?, Que ideia, nós nunca estivemos em Luanda, Nunca?, Nunca, filho, nunca, É tudo mentira,

 

E a menina, pai, a menina também é mentira?, Sim, filho, é tudo mentira,

 

Nunca li um livro, e tão pouco sei o que são livros, e nunca estive em Luanda, e o mar, o mar não existe, É tudo mentira, Filho!, e eu, eu sonhava com livros, e olhava o céu, e do céu penduravam-se silêncios na manhã, olhava a rua, uma menina passeava num cavalo, fincava os bracinhos no portão e adormecia ao som do seu galopar, os cabelos levantavam-se e enrolavam-se nas nuvens,

 

Uma voz chamava-me, e o martelar da sombra nos canteiros das flores não me a deixavam ouvir, a voz repetia-se e nas folhas das mangueira Vem para dentro, Filho, virava a cabeça e esquecia-me, E era tudo mentira,

 

Dizes-me, Pai, Dizes-me que nunca estivemos em Luanda, E o Mussulo que me levavas todos os domingos?, É tudo mentira, Filho, tudo, O Mussulo não existe, O mar não existe, Luanda não existe, e os domingos, Que têm os domingos, Pai?, Os domingos não existem, Filho,

 

É tudo mentira, nunca li um livro, tão pouco sei o que são livros, e nunca estive em Luanda,

 

E os barcos, Pai?, Não existem, Filho, os barcos não existem, tudo é mentira, são apenas sonhos que cresceram dentro de ti, e as manhã, as manhã não existem, e tu não és meu filho, e eu não sou teu pai, é tudo mentira, e o teu nome, Sim, Pai, O que tem o meu nome?, O teu nome é Ataíde, Ataíde, meu Filho,

 

Os livros não existem, os livros somos nós sentados em bancos de jardim, Verdade, Pai, sim, Filho, verdade, É tudo um sonho, meu Filho, sonhos, e sonhos, e sonhos, e a menina que passeia junto ao mar, Sim, Pai?, É um sonho, tudo mentira, tudo, toda a tua vida são apenas sonhos, Que ideia a tua, meu Filho, Luanda, nós nem nunca estivemos em Luanda…, quanto mais levar-te ao Mussulo…

 

(texto de ficção)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:55

A minha cabeça fervilha

E a tua mão em silêncios de afagar

A minha cabeça partilha

As palavras do teu olhar,

 

A minha cabeça em pedacinhos de nada

E dizem que sou ignorante

Na minha cabeça a madrugada

Quando a minha cabeça fica ausente,

 

A minha cabeça fervilha

Quando poisa na tua mão

E do mar acorda a ilha,

 

Ai amor… a minha cabeça, amor,

Quando vem a solidão

Das manhãs em flor.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:22

E das pétalas do teu sorriso

Acorda o mar nos teus lábios

As ondas se extinguem no teu peito

E uma gaivota poisa no teu seio,

 

É noite

E o teu corpo ancora nos meus braços

E da noite

Entram em ti as estrelas da madrugada,

 

Pingos de luz alimentam os teus olhinhos

E das pétalas do teu sorriso

Um barco em manobras que te procura

E te resgata do meu corpo,

 

E das pétalas do teu sorriso

Acorda o mar nos teus lábios

E na areia finíssima de Luanda

Alguém deixou escrito… Amo-te.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 17:59

 

Decididamente este é o nosso quarto, porque eu, eu o desejo, e tu, tu o queres, simples, muito simples, e nada de luxos, porque eu e tu não gostamos de luxos, porque eu e tu somos simples, e talvez neste quarto faltem alguns livros, e a janela, virada para o mar, e ao acordarmos damos conta que estamos num quarto de um qualquer romance de Milan Kundera,

 

Decididamente este é o nosso quarto, porque eu, eu o desejo, e tu, tu o queres, e ao acordar saímos em silêncio das páginas de um livro, descemos as escadas e abraçamos o mar…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 17:08

E que eu te abraço no teu sonho, e quando entro em ti afago-te os cabelos e olho-te, fico em silêncio, apenas pretendo olhar o teu corpo misturado na noite, e eu, eu sei que brinco no teu sonho,

 

E fico à espera para te seguir, abraçar, beijar, dar-te a minha mão e olhar nos teus lábios doces e meigos a manhã a acordar,

 

Tu dormes em mim, dormes profundamente como se fosses um malmequer que espera o acordar do sol, quero-te seguir, levantas-te e caminho na tua sombra, e desconheço o teu caminho, se vais entrar no mar, se simplesmente vais caminhar na paisagem selvagem com flores selvagens, mas para onde fores, eu, eu vou,

 

E que eu te abraço no meu sonho, fico à espera para te seguir, e tu dormes, e eu olho-te e percebo que nas tuas costas existem asas, que sabes voar, e que quando acordares vais pegar em mim, e juntos, juntos subirmos a montanha, e voamos em direção à lua,

 

Fico à espera para te seguir,

 

Tu dormes, eu olho-te, a manhã acorda e abraça-nos, e dos teus olhos emergem as estrelas do céu,

 

E fico à espera para te seguir.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:39

Quando no rio se esconde uma traineira

Virada para o mar,

E do rio cresce uma macieira

Que não se cansa de voar,

 

Quando no rio voam as tuas asas

E do teu corpo nasce a noite escura e nua,

Quando o rio afoga as brasas

Quando o rio se esconde na lua,

 

Quando no rio a tua mão ao de leve poisar

As nuvens olham-te em abraços,

No rio se esconde uma traineira virada para o mar

Enrolada em sargaços…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:07
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