Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

08
Set 11

Um murmúrio interrompe a noite, dos lábios dela as ondas do mar em silêncios e flores que se despregam aos bocadinhos e se disfarçam de beijos, os beijos evaporam-se entre as mandibulas das estrelas e a lua, e junto às rochas os chinelos dela poisados sobre o sorriso de uma gaivota, a areia molhada, a impressão dos pés no soalho da praia, e enquanto caminha o vento faz balançar-lhe a saia de ganga,

 

- A menina olha-me e percebo que dos olhos dela acorda o espanto, e percebo que dos olhos dela subtrai-se a admiração, e talvez se questione, julgo eu pelo sorriso que lhe cresce nos lábios, ela pergunta-se Quem será esta ave de rapina que a esta hora caminha junto à praia, e só, simplesmente só, e nem a sombra o acompanha?, e eu, eu repondo-lhe com um sorriso que nunca ando só e não sou ave de rapina Nunca ando só e não sou ave de rapina!, olhem-me esta miúda, ave de rapina…, eu nem sei voar,

 

Os chinelos tombam do sorriso da gaivota, e adormecem sobre a peugada esquecida na areia, e algo está errado, porque se os chinelos são dela e a peugada na areia lhe pertence, Porque não coincidem chinelos e peugada,

 

- Oiço uma voz Estás maluquinho, meu querido!, e não bastava eu ser ave de rapina, e não bastava eu não conseguir voar, agora, agora também sou maluquinho, e daqui a pouco dizem-me que estou a sonhar Estás a sonhar, rapazinho!, qual mar, qual praia, ave de rapina e gaivotas, chinelos e peugada, e oiço outra voz Estás maluquinho, meu querido!,

E inclino-me sobre o meu lado direito, e o mar travestiu-se de estante, a peugada e os chinelos de mão dada aos livros, e as gaivotas e a ave de rapina encolhidas nos cachimbos,

E ela tem razão, e esta miúda é mesmo esperta, E queres ver que estou mesmo maluquinho?,

 

Um murmúrio interrompe a noite, dos lábios dela as ondas do mar em silêncios e flores que se despregam aos bocadinhos e se disfarçam de beijos, os beijos evaporam-se entre as mandibulas das estrelas e a lua, e malmequeres caminham junto à praia, a água bate-lhes nos pezinhos, sentem um silencioso arrepio e saltitam sobre a areia ainda quente,

 

- Cerrar os cortinados da noite, e sobre a cama puxo os lençóis de espuma, cubro-me com o mar, ela apaga o candeeiro de estrelas, e quando lhe pego não mão o mar encostado ao meu peito adormece, e brinco com os lábios dela,

 

Sentem um silencioso arrepio e saltitam sobre a areia ainda quente, e em espaços desordenados desaparecem sobre o mar…

 

(texto de ficção)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:48

Todas as pedras

E todos os rios,

Todas as pedras

E todos os socalcos,

Em todas as manhãs

Um sorriso cresce no céu,

Uma lâmpada de néon emagrece

Conforme se vai acendendo a tarde

E da minha mão levantam-se gaivotas,

Cacilheiros em pedacinhos,

Um cão que ladra

E passa por mim sem morder,

Cacilheiros no tejo

E rabelos no douro…

E uvas nas videiras

E fome nas videiras,

Os donos das videiras com fome,

As lágrimas das videiras

Que correm para o rio

E não voltam,

Todas as pedras

E todos os rios,

Todas as pedras

E todos os socalcos,

Em todas as manhãs

Um sorriso cresce no céu,

O sol entra pela janela

E um petroleiro agarra-se ao meu corpo,

Abraça-me,

E percebo que sou um feixe de eletrões

Que viajam no tempo

À procura de um buraco negro,

Começa a noite

E o mar encosta-se à sombra dos plátanos,

Uma criança a brincar,

Outra criança a dançar,

E um senhor muito velho

Tropeça nas arcadas da noite,

Cai,

Cai a noite…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:19

Nas pétalas da tarde

Sorrisos de nada

E o rio abraçado ao cansaço

E o rio que corre na madrugada,

 

Nas pétalas da tarde

Silêncios que poisam na tua mão

Minutos que balançam no teu corpo

Segundo de desejo no teu coração,

 

Despede-se a tarde

Adormecem as pétalas nas silabas do vento,

Meu amor, minha flor desejada,

Minha rosa de encanto…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:18
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(o teu poema)

 

Amar

E desejar,

Desejar ser desejado,

Amar

E ser amado,

Amar

E desejar,

Que com as ondas do mar

Venham sonhos de sonhar,

Manhãs com sorriso

E noites sem juízo,

Amar,

Amar

E desejar,

Ser amado

E desejado,

 

E ao deitar

Um finíssimo fio de luz na minha mão,

Amar e desejar

Amar o teu coração…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:35
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