Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

17
Set 11

Regresso a casa nas mãos do vento

Com nuvens suspensas nos meus lábios,

Regresso do mar,

E chego a casa e um petroleiro à porta de entrada,

Cansado e com falta de ar,

Cansado e quer zarpar

Pela madrugada…

Regresso a casa

E a casa vazia e a casa perdida nas estrelas da noite,

A casa embalsamada,

A casa enfurecida com a tempestade,

A casa malvada,

 

Regresso a casa nas mãos do vento

E o vento encostado ao petroleiro,

E a casa camuflada no capim desajeitado…

Regresso a casa e a casa em sofrimento

E a casa um veleiro,

A casa… um corpo deliciosamente travestido de gelado,

 

Regresso a casa nas mãos do vento

Com nuvens suspensas nos meus lábios,

Encalhada em astrolábios

Sem movimento,

 

A casa nua

A casa que se evapora no cacimbo de Luanda…

Regresso a casa e pela janela vejo a lua

Prisioneira nas mãos de quem manda…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:39

Enquanto olhava os cachos de uva suspensos na videira e por momentos juro que vi rosas, botões de rosa, e de muitas cores,

 

Veio-me à memória que andei mais de vinte anos a fazer projetos para os outros, trabalhei em projetos de habitações, trabalhei em projetos de edifícios de vários andares, trabalhei em projetos de pontes e estradas, ensinaram-me a dimensionar vigas e pilares e lajes maciças e lajes aligeiradas e muros, e na faculdade aprendi a dimensionar um pavilhão metálico de 80 m x 40 m,

 

E por momentos as rosas sorriam-me São rosas, senhor, são rosas!,

 

E cheguei à conclusão que me esqueci de fazer o meu próprio projeto, hoje descobri que construi o edifício da minha vida ilegalmente, e hoje descobri que além de ser de muita fraca qualidade, é feia, é horrível, e estruturalmente pode ruir a qualquer momento,

 

Olhava os cachos e vias as rosas que me sorriam, e eu, eu também lhes sorria, e com muitas cores São rosas, senhor, são rosas!,

 

E antes que o edifício da minha vida acabe por ruir,

 

São rosas, senhor, são rosas,

 

Vou hoje mesmo começar a efetuar o projeto de arquitetura, depois o projeto de estruturas, águas e saneamento e eletricidade e telecomunicação e acústica e térmico…,

 

E foi preciso ir a Castedo do Douro e olhar as rosas que me sorriam numa videira São rosas, senhor, são rosas, para perceber que a minha vida era um edifício de muita fraca qualidade e horrível e clandestina…

 

São rosas, senhor, são rosas.

 

(texto de ficção ou não, eis a questão)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:45

Às vezes, muitas vezes, no final dos meus textos coloco (texto de ficção) e outras, outras não coloco nada,

 

Muita gente pensará que os meus textos de ficção são ficcionados, e os não ficcionados são a minha realidade, mas como sou maroto,

 

Muitas vezes, coloco (texto de ficção) nos textos que são a minha realidade, e os outros, aqueles que as pessoas pensam ser a minha realidade são na verdade os textos de ficção,

 

Porque o faço?

 

Apenas porque gosto de confundir as pessoas,

 

Porque gosto de criar estórias e personagens, e muitas vezes, as minhas estórias e as minhas personagens andam de mãos dadas, e confundem-se com a minha realidade… e com as minhas estórias.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:02

Há pessoas que pensam que eu sou tolinho, um lunático e que vive desenquadrado da realidade, há pessoas que julgam que eu ando no mundo por ver andar os outros, pensam e pensam mal,

 

Há pessoas que acreditam que eu acredito em tudo o que me dizem, e não é verdade, eu acredito porque quero acreditar, finjo acreditar,

 

Convém-me e dá-me jeito que as pessoas acreditem que sou um desgraçadinho, convém-me e dá-me jeito que as pessoas acreditem que sou um analfabeto, porque me convém e dá-me jeito,

 

E assim passo desapercebido aos olhos dos outros, e assim sei que ninguém me chateia, porque o que quero é apenas viver sossegado, se possível no meio da montanha virada ao rio ou ao mar,

 

E continuar a fingir que acredito.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:43

Há quem tenha nojo de mim

E das minhas palavras

E dos meus olhos,

Há dias assim,

Noite sem fim,

Manhãs intermináveis,

 

Há quem tenha nojo de mim

E do meu corpo

E da minha boca,

Há dias assim,

Noites sem fim,

Manhãs intermináveis…

 

Há quem tenha nojo de mim

E das minhas mãos,

E dos meus lábios,

Há dias assim,

Noites sem fim,

Manhãs intermináveis,

 

Há quem tenha nojo de mim

E do meu sorriso,

E da minha vida,

Há dias assim,

Noites sem fim,

Manhãs intermináveis,

 

E há quem finja que não tem nojo de mim

Nos dias assim

Nas noites sem fim

Nas manhãs intermináveis.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:05
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