Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

27
Set 11

 

Todos os dias o meu corpo sente

As ranhuras da chuva,

Todos os dias o meu corpo ausente

Na neblina da manhã,

 

O meu corpo sente

E mente,

 

Todos os dias as ranhuras da chuva

Nos cansaços da semente,

Todos os dias o meu corpo sente

As gaivotas quando acordam junto ao mar…

 

O meu corpo sente

E mente,        

                              

E não consegue voar…

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:34
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Traz o vento o beijo invisível aos lábios da princesa, e no castelo adormecido sobre as acácias o meu irmão João enrolado nas manhãs submersas na espuma da solidão,

Caiem pedras sobre o rio,

E a princesa descalça tropeça nas pedras que caiem sobre o rio,

 

- O meu corpo deseja-se e ausenta-se quando me aproximo das árvores do jardim as pequeníssimas silabas que a princesa deixava cair sobre a areia húmida da noite, e um dia sentei-me sobre as sombras que corriam nos carris com destino a Cais de Sodré, e antes de chegar ao fim do meu trajeto olhei o rio, olhei-o como quando se olha um desejo escondido numa ruela adormecida, e ouvi a voz do rio emaranhada em amêndoas com chocolate, o meu pai pegava-me na mão e procurava na algibeira os cigarros que tinha deixado adormecer no domingo passado, eles cansados, acendia-os e eles recusavam-se a caminhar à nossa beira,

 

E baixavam os braços,

 

Quando o castelo começava a acordar e as janelas se abriam para deixar entrar o vento que trazia os beijos invisíveis da princesa e já em pleno corredor brincavam com os sorrisos dos cortinados e se abraçavam à claridade minúscula que se erguia junto ao pavimento,

 

- E baixavam os braços,

 

E se abraçavam à claridade minúscula que todas as noites o soalho guardava na mão misera quando no mar o enforcado debatia-se com a maré e a ausência do vento,

 

- E sem vento não beijos invisíveis,

 

O meu irmão João que brincava nos altíssimos ramos da acácia frente ao mar, e que corria, e que saltava, e que um dia experimentou a lei da gravidade, e sem gravidade desenhou arranhões nos braços e nas pernas,

 

- E baixavam os braços e entravam beijos invisíveis pelas janelas, os cortinados baloiçavam como crianças escondidas nos quintais de Luanda, as mangueiras deitavam-se no chão emagrecido e as andorinhas à procura de vogais e frases e restos de poemas,

 

Numa ruela adormecida, a calçada nos enjoos da manhã depois de uma noite de embriaguez à procura de vogais e frases e restos de poemas, e o meu irmão João de braços cruzados a sentir o mar a entrar-lhe dentro do corpo,

 

- Sai daí João,

 

Não, e não saio,

 

E baixavam os braços na magreza do enforcado, e que não saio berrava o meu irmão, e quero o mar dentro de mim,

 

- O meu corpo deseja-se e ausenta-se quando me aproximo das árvores do jardim as pequeníssimas silabas,

 

E que não saio,

 

Das pequeníssimas silabas o vento que traz os beijos invisíveis da princesa,

 

- E que não saio,

 

E que quero o mar dentro de mim, quando a sombra que corria nos carris chegava a Cais de Sodré saía da estação e escondia-se debaixo da rampa na companhia de homens vestidos de mulher, e de mulheres pensando que eram homens,

 

- E que não saio,

 

E de mulheres pensando que eram homens e que eram mulheres de garganta aberta e nos dentes as vogais as frases e restos de poemas, e cansaços da vida,

 

- E que não saio,

 

Que as andorinhas procuravam junto ao mar.

 

(texto de ficção)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:48

O beijo invisível

Nos lábios de uma flor cansada,

A noite desce

E desaparece,

E volta a aparecer na madrugada,

 

A sedução de milhões de cores

Abraçadas a pétalas desgovernadas,

Desejam-se os amores

Nas flores deitadas,

 

O beijo invisível

Na boca da noite silenciosa,

As estrelas poisadas sobre a mesa-de-cabeceira…

E da janela vem a lua apetitosa

Em sorrisos de feiticeira,

 

Em desejos de freira,

O beijo invisível

Nos lábios de uma flor cansada,

A noite desce

E desaparece,

E nos lábios da minha amada

A água sibilada da ribeira…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:03

Imagino que o mar é redondo,

Imagino que a lua é quadrada,

Imagino que as nuvens são de algodão

E as estrelas de goiabada,

 

Imagino que a noite é uma substância

Escondida nas mangueiras,

Imagino a minha infância

Misturada na infância dela,

Imagino-a a espetar pregos nas oliveiras

E a brincar com uma rosa amarela,

 

Imagino a manhã a acordar,

Imagino a tarde a sorrir,

Imagino a alegria do mar

Com ondas de fingir,

 

Imagino que os sonhos de sonhar

Dão a mão à lua quadrada,

 

Imagino que as nuvens são de algodão

E a vida uma roda dentada,

Imagino o meu coração

Palpitando na alvorada,

 

Imagino que os sonhos de sonhar

Dão a mão à lua quadrada,

E que no fundo do mar

Vive uma mulher apaixonada…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:42

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