Os versos que mergulham nos teus lábios

E se abraçam ao mel da tua boca,

Os versos que se escondem na folha de papel

Em palavras de sábios

De loucura pouca,

Os versos que deixaram de crescer

Dentro da minha mão,

Os versos em silêncio

No sorriso do mar,

Os versos da solidão

Na fogueira a arder…

No desejo de amar,

Os versos que me cansam e aleijam

Nos versos que lanço ao vento,

Nas flores que beijam

Estrelas em movimento,

Versos de nada

Versos travestidos de sonhos,

Versos que passeiam na madrugada,

Versos… versos tão medonhos,

Os versos que mergulham nos teus lábios

E se abraçam ao mel da tua boca,

São versos cansados

Dos versos amados

Dos meus versos rasgados…

Os versos que mergulham nos teus lábios

E se abraçam ao mel da tua boca,

São versos rejeitados…

(desenho de Luís Fontinha)

Saltita o menino

Sobre o rio ancorado,

Desce o menino a montanha

Apressadamente e sem tino

No silêncio derramado,

Corre e corre e corre o menino

E ninguém o apanha

Sobre o rio ancorado,

Tem nas lágrimas pétalas de flor

Que se evaporam no luar,

Tem no rosto sofrimento e dor…

E na mão as ondas do mar,

Saltita o menino

Sobre o rio ancorado,

Desce o menino a montanha

Desce… e adormece cansado.

Afaste-se do meu corpo

O sol misturado nos silêncios da lua,

Vêm até mim as lágrimas das estrelas

E dos lábios de uma rosa

O amanhecer

Enrolado nos sorrisos da noite,

Vem até mim

O medo de não ser amado,

E que o sol deixe de brilhar

No meu corpo cansado…

Afasta-se do meu corpo

Os sonhos sonhados,

E dos meus lábios

Fogem os beijos da manhã…