Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

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Out 11

Porque o tejo abraçava-se às estrelas de néon e o magala invisível consumia cigarros invisíveis, e um paquete passeava-se e empoleirado na grade um menino de calções que regressava do ultramar, o menino sorria e dizia adeus ao magala, o magala,

- Amas-me?,

- Se não fosses quem és e não tivesses os problemas que tens,

Amava-te muito, e eu perguntava-me,

- Quem eu sou?,

O menino esquecido dentro dos calções e que acenava com a mão ao magala sentado junto à margem do rio, fumava cigarros invisíveis e parecia-me que dormia, não me recordo, foi há tanto tempo…,

- Que a Matilde saiu de casa e levou os filhos, ela revoltada com a minha ausência, as árvores do quintal começaram a escurecer e quando demos conta estavam tombadas no chão, choravam, os pássaros sob o silêncio das mãos,

O velho Armindo às voltas com a roldana da vida,

E a vida sumia-se nas frestas do segundo andar, o tejo subia,

E desciam,

Os pássaros sob o silêncio das mãos quando lhas poisava no rosto e ela dizia-me,

- Se não fosses quem és e não tivesses os problemas que tens,

Amava-te muito, e eu perguntava-me,

Deixei de me perguntar quem sou,

E a vida sumia-se nas frestas do segundo andar, o tejo subia,

E desciam,

As mangueiras que beijavam as sombras do quintal de Luanda, e derreado o velho Armindo tropeçava no triciclo e a vida deixou de andar,

A roldana enferrujada e o menino que baloiçava nas grades do paquete pergunta ao pai Pai o que é neve? Neve? Porquê filho?

- A mãe diz que em Trás-os-Montes neva e é muito frio…, É verdade Pai?,

O meu pai que não É tudo mentira meu filho, tudo mentira,

E percebi que nunca tinha vivido em Luanda e que nunca tinha poisado a minha mão sobre o mar, não vim de paquete Paquete meu filho? Se nós nunca saímos desta terra, é tudo mentira, tudo,

Nem sei quem é a Matilde desabafava o magala quando deixou de acenar ao menino empoleirado nas grades do paquete, E da janela virada para a rua subiam,

E desciam,

Corpos ensanguentados no desejo do sémen,

- Amas-me?,

Ensanguentados no desejo de sémen que escorria das nuvens de algodão doce e desciam, e subiam,

E da janela virada para a rua subiam,

E desciam,

Os gritinhos de prazer dos lençóis do cubículo,

- Amava-te muito se não tivesses os problemas que tens e não fosses quem és,

E o cigarro abraçado à solidão da tosse de um petroleiro que descia,

Dos olhos do menino.

 

(projeto de romance)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:43

 

(desenho de Luís Fontinha/MiLove)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:03

 

(desenho de Luís Fontinha/MiLove)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:16

 

(desenho de Luís Fontinha/MiLove)

 

Cansado da hipocrisia

E de alguns com a mania

Cansado das flores

E doutores

 

Cansado da poesia

E das palavras do amanhecer

E de alguns com a mania

Que são alguém sem o ser

 

Cansado das nuvens sem prazer

E dos textos de literatura

Cansado de palavras que dizem não ler…

E que eu sei que leem com amargura

 

Ai senhores

Tanta hipocrisia

Tantos doutores…

Tanta porcaria…

 

É assim o meu pobre Concelho (Alijó)

Um ninho de ratazanas amestradas

(Cansado da hipocrisia

E de alguns com a mania)

E nem a austeridade do Doutor Coelho

Acaba com estas almas desgovernadas…

 

Luís Fontinha

Alijó

publicado por Francisco Luís Fontinha às 17:00

Cresces como se fosses uma estória de amor

Que acorda sobre o mar engasgado na tarde,

Cresces e abraças-te às palavras que jorram da minha mão…

E não passas de simples palavras,

 

Riscos cansados numa tela vazia

Que preencho com a tua saudade,

Palavras do poema que escrevo no teu corpo

Como se fosse uma estória de amor,

 

Cresces

E alimentas-te da minha dor,

Palavras, sílabas, riscos cansados

Numa tela vazia,

 

Na minha vida de tela vazia,

Cresces como se fosses uma estória de amor

Que acorda sobre o mar engasgado na tarde…

E não és estória nem flor,

 

És a saudade.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 13:56

 

(desenho de Luís Fontinha/MiLove)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:52

Vivo dentro desta caixa de sapatos

Abraçado a milhões de cores

Sou uma tela cansada

Sou um monstro da madrugada,

 

E não valho nada…

Vivo dentro desta caixa de sapatos

Amarrado às flores

Que a noite consome na fornalha,

 

A canalha,

Os impostores,

Os oportunistas da minha terra…

Sou uma pétala amarela

 

Que vive dentro de uma caixa de sapatos,

Sou uma tela

Onde poisa o pincel da solidão…

E se extinguem as estrelas do céu.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 10:52

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