Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

30
Out 11

Não deixes que as nuvens

Se alimentem da tua pele

E o mar que poisa na tua janela

Adormeça abraçado às rochas,

 

Não deixes,

Não,

 

Não deixes que eu suba até ao infinito

E beije loucamente duas retas paralelas

E me perca entre os finíssimos fios de luz

Que crescem no teu cabelo,

 

Não deixes,

Não,

 

Que eu desista de sonhar

E amar,

Não deixes,

Não…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:05
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(desenho de Luís Fontinha/MiLove)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:45

“Da vida nada espero,

Querem que eu seja um boneco de palha com cabeça de abobora, querem que eu seja um roberto, um fantoche, um palhaço,

Vejam senhores; queriam que eu fosse um travesti e vivesse nas catacumbas de Cais de Sodré”,

E foram estas as últimas palavras que ouvi da boca do senhor de avançada idade e que acabava de finar-se nos meus braços curvados devido à sombra do candeeiro que na rua atrapalhava o andamento dos peões, e aos mais distraídos o choque iminente, truz, a chapa platinada da cabeça amachucada contra o poeste de iluminação,

- Vê por onde andas seu palerma,

Pediu-me um cigarro, e enquanto desço a mão à algibeira e procuro os cigarros e tiro os cigarros e o isqueiro,

Fechou os olhos hermeticamente e com os cortinados da vida cerrados começou a voar, atravessa o rio e perdeu-se nos céus de Almada,

E ainda oiço os murmúrios nada simpáticos do velhote,

- O que faz com que um palhaço mande plantar um poste de iluminação no centro do passeio que serve exclusivamente para os peões?,

Talvez porque é estético respondo-lhe eu,

- Talvez por ser estético,

“Da vida nada espero,

Querem que eu seja um boneco de palha com cabeça de abobora, querem que eu seja um roberto, um fantoche, um palhaço,

Vejam senhores; queriam que eu fosse um travesti e vivesse nas catacumbas de Cais de Sodré”,

E o rio dançava entre as acácias da noite, e quando introduzo os cigarros e o isqueiro na algibeira vejo o velhote com uma minissaia encarnada, saltos altos e os seios de silicone pendurados ao peito, e fumava e caminhava às voltas do Cristo Rei,

- Querem que eu seja um boneco de palha com cabeça de abobora, querem que eu seja um roberto, um fantoche, um palhaço,

Da vida nada espero. Sentar-me junto ao tejo e contar as gaivotas de sorrisos amarelo…

 

(texto de ficção)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:56

Há um poema na minha vida

Que não me deixa desistir,

Há um poema que segura os meus sonhos

E me diz para acreditar,

 

Há um poema dentro de mim

Uma fogueira a arder,

Há um poema que me obriga a gritar…

A cada manhã ao acordar

 

Ou nos dias a sofrer,

Há um poema

Que me obriga a sonhar

E a viver…

 

Há um poema dentro de mim

Construído de pedacinhos de areia,

Nasceu em Luanda…

E corre na minha veia.

 

(“Queriam-me casado, fútil e tributável?” Álvaro de Campos)

“É isto o que a vida quer de toda a gente?, perguntava Abel.” (Claraboia de José Saramago, pág. 267)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:26

O poema constrói-se no púbis da madrugada

E gemidos e ais

Se abraçam ao néon embriagado da noite,

Tu sorris-me com o silêncio dos lábios,

E as sílabas do sofrimento

Na sombra da minha mão

Que pausadamente constrói o poema

Junto à areia do mar,

 

Dispo o poema

E acaricio-lhe as vogais mergulhadas em desejo,

E das coxas de uma quadra…

Acorda uma flor encarnada,

 

O poema torce-se e roda sobre o meu corpo,

E o meu corpo é o mar

Que engole o poema,

E o poema ama-me e eu amo loucamente o poema

 

Quando o rio sobe as escadas do prazer,

E o poema cansado

O poema feliz

Por ser amado e desejado

 

Pelo meu corpo vestido de mar…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:42
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