Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

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Out 11

Perguntavam-lhe – Menino

O que queres ser quando fores grande?

Ele encolhia os ombros,

Olhava indiferente o sorriso das mangueiras

 

E no céu de Luanda

Alguém escrevia pela calada da noite…

- Miserável!

E o menino respondia,

 

- Quando for grande quero ser miserável

E viver na rua,

E abraçar-me ao candeeiro

Plantado no centro do passeio,

 

- Quando for grande

Quero ser o candeeiro que ilumina a puta

Ou o magala à espera de engate

Quando for grande,

 

Quando for grande

Quero ser um miserável,

O cão vadio

Que quando acorda,

 

Não acorda,

E quando for grande

Quero ser o buraco da fechadura da noite

Onde dormem as estrelas,

 

Quero ser o miserável

Candeeiro plantado no centro do passeio,

Quero iluminar a puta

Quero iluminar o magala…

 

E quando o cliente chegar,

Receber o dinheiro…

Sentar-me junto ao Tejo,

E contar as gaivotas de sorriso amarelo,

 

É isso,

Quando for grande,

Se algum dia conseguir ser grande…

Quero sentar-me junto ao Tejo,

 

E contar as gaivotas de sorriso amarelo,

 

Mas primeiro,

Desligo a luz à puta ao magala e ao paneleiro,

Deixo de ser candeeiro plantado no centro do passeio…

E sentado junto ao Tejo,

 

Conto as gaivotas de sorriso amarelo.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:02

Espero enquanto a noite se esconde

Dentro do meu esqueleto

E nem uma simples sombra me abraça

Ou se deita na minha mão,

 

Espero,

E a noite longínqua dos meus lábios

No miolo dos meus ossos

Evapora-se sem me avisar,

 

Sem me abraçar,

Espero enquanto a noite se esconde

E dentro do meu esqueleto

A dor

 

Mergulhada na solidão que não termina,

Acaba a noite…

E começa a saudade

Do mar enrolado às coxas da maré,

 

Espero

E no púbis das estrelas

Vejo o meu corpo desossado…

E começo a chorar.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:15

Não, não estou louco,

E querem fazer de mim louco,

Fecharem-me dentro de um aquário

Emerso em acetona,

 

Louco, eu?

Porquê louco?

 

Escrevem nas paredes do meu quarto

Frases do tipo…

“Hoje é terça-feira” e tenho a plena certeza que é segunda-feira,

Ou que “hoje é dia 28 de outubro”…

 

E fui ao calendário pendurado na parede da cozinha,

E lá estava, hoje é dia 31 de Outubro de 2011…

E de manhã ao acordar eu menti,

Acordei e disse a mim próprio,

 

Francisco, - sim sou eu, hoje vais acordar sem corpo,

E acordei,

 

E vieram três homens do poema de AL Berto,

(com a cabeça de vidro),

Trouxeram o aquário

E mergulharam-me lá dentro,

 

Eu que acordei sem corpo…

 

Não, não estou louco,

E querem fazer de mim louco,

Fecharem-me dentro de um aquário

Emerso em acetona,

 

Louco, eu?

Porquê louco?

 

Não, não estou louco!

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:18

 

(desenho de Luís Fontinha/MiLove)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:56

Hoje acordei

Amarrotado como uma folha de papel

Cruzei os braços e abracei o meu corpo…

Desilusão,

 

Hoje,

Hoje não tinha corpo,

Hoje,

Apenas uma sombra deitada nos lençóis da manhã,

 

E escrevi

Na folha de papel amarrotado

Em que se transformou o meu corpo,

- Vou desistir de sonhar!

 

Hoje acordei

Amarrotado como uma folha de papel,

Hoje sou um rio cansado

Escondido entre as montanhas da solidão,

 

Hoje eu sem corpo,

E escrevi na folha de papel amarrotado

Em que se transformou o meu corpo…

- Não me deixes cair!

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:50
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Sentir as tuas palavras contra o meu peito, apago a luz e seguro a tua mão entre as algas do desejo, e o mar de AL Berto entra-nos pela janela… e do poema um beijo crucifixa-se nos teus lábios, abre os braços pregados à cruz da tua boca e sorri às encostas do prazer,

E desce lentamente sobre nós como o rio que corre livremente para o mar das tuas coxas…

E a tua mão segura-me e não me deixa cair, e a tua mão segura-me e não me deixa vacilar, desistir… e a tua mão poisa no meu peito e adormece docemente como uma pétala de rosa entre as páginas de um livro de Kundera…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 02:00

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