Perguntavam-lhe – Menino
O que queres ser quando fores grande?
Ele encolhia os ombros,
Olhava indiferente o sorriso das mangueiras
E no céu de Luanda
Alguém escrevia pela calada da noite…
- Miserável!
E o menino respondia,
- Quando for grande quero ser miserável
E viver na rua,
E abraçar-me ao candeeiro
Plantado no centro do passeio,
- Quando for grande
Quero ser o candeeiro que ilumina a puta
Ou o magala à espera de engate
Quando for grande,
Quando for grande
Quero ser um miserável,
O cão vadio
Que quando acorda,
Não acorda,
E quando for grande
Quero ser o buraco da fechadura da noite
Onde dormem as estrelas,
Quero ser o miserável
Candeeiro plantado no centro do passeio,
Quero iluminar a puta
Quero iluminar o magala…
E quando o cliente chegar,
Receber o dinheiro…
Sentar-me junto ao Tejo,
E contar as gaivotas de sorriso amarelo,
É isso,
Quando for grande,
Se algum dia conseguir ser grande…
Quero sentar-me junto ao Tejo,
E contar as gaivotas de sorriso amarelo,
Mas primeiro,
Desligo a luz à puta ao magala e ao paneleiro,
Deixo de ser candeeiro plantado no centro do passeio…
E sentado junto ao Tejo,
Conto as gaivotas de sorriso amarelo.