Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

08
Nov 11

 

(desenho de Luís Fontinha/MiLove)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:38

 

(desenho de Luís Fontinha/MiLove)

 

Não passas de um rio confuso

Olho-te

E sentado na rocha da noite enterro as minhas palavras nas tuas águas

Olho-te e não passas de um rio confuso

Frio

Ausente e que corres para o mar

 

Olho-te e peço-te que me leves até ao mar

Peço-te

Olho-te e não me ouves

Porque és um rio confuso

E curvas e curvas e curvas às voltas dos socalcos

E frio

 

E não consigo alcançar-te debaixo das nuvens

E tu prisioneiro a um cordel

E baloiças e baloiças no céu

Olho-te

E não me ouves

Olho-te e desistes de mim

 

E eu

Olho-te e não me ouves

E eu peço-te e não me levas a ver o mar

Sabes? Nunca abracei o mar…

Consegues desenhar na minha mão o mar?

Claro que não… porque não passas de um rio confuso

 

E frio

E que não me ouves

E eu

E eu peço-te que me mostres o mar

Como fazes quando me desenhas na testa

O pôr-do-sol…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:10

Sei que hoje é sábado

Porque vi-te ontem poisado sobre a estante dos livros

(Nunca Mais é Sábado – Antologia de Poesia Moçambicana)

E como foi ontem que te vi Hoje certamente é sábado

E sabes

Não me interessa o dia da semana do mês ou do ano

Nem tão pouco que não tenho trabalho

 

Sei que hoje é sábado

E o meu desejo é simples

Que deixes de ter dores e que cessem as lágrimas do teu rosto

Sei que hoje é sábado

E sabes

Com dinheiro ou sem dinheiro vai-se vivendo

 

E ninguém morre por ser miserável

E ninguém morre porque hoje é sábado

Porque amanhã certamente voltará a ser sábado

E será sempre sábado enquanto ficares poisado na estante dos livros

Até que um dia eu me chateie e te queime numa fogueira…

E terminarão os sábados e terminarão as tuas dores e cessarão as tuas lágrimas

 

Sei que hoje é sábado

Porque vi-te ontem poisado sobre a estante dos livros

(Nunca Mais é Sábado – Antologia de Poesia Moçambicana)

E como foi ontem que te vi Hoje certamente é sábado

E sim

Hoje é sábado

Hoje é sábado porque não ouvi os homens do lixo…

 

Hoje é sábado

E sim

Hoje é sábado porque estavas ontem sobre a estante dos livros

E olhavas-me

E olhavas-me

E nem me avisaste que hoje era sábado… seu maroto.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:53

 

(desenho de Luís Fontinha/MiLove)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:06

Nem sei como começar, Pelo princípio Rapaz pelo princípio, então é assim e nem sei como devo tratar-te, deixa lá o tratamento Rapaz o tratamento não importa o importante é o que tu tens para me dizer, e tanta coisa que tenho, então começa, meu deus ou simplesmente deus ou amigo?, isso não importa, está bem Meu deus às vezes fico sem perceber a razão da tua existência, Como assim Rapaz?, Não sei… é tudo tão estranho…, continua, quando penso fico com a sensação que existes apenas para te divertires à nossa custa, Estás a ser injusto Francisco Não é verdade o que afirmas, está bem Desculpa, mas é tudo tão estranho, Estranho?, Sim estranho Repara Desculpe Repare quando penso em si parece que desde que nasci nunca quis saber de mim Nunca e que nunca está ao meu lado Nunca e que eu não sei explicar mas é tudo tão estranho meu amigo Tão estranho e Desculpe-me mas parece que nunca quis saber de mim.

 

Muito injusto Francisco Muito injusto E quando estiveste a morrer quando eras bebé quem julgas que te segurou na mão e não deixou que vacilasses, Porquê Porque não me deixaste morrer?, Porque Rapaz a minha função não é salvar nem matar A minha função é segurar na mão de quem sofre e acompanhá-la, Só isso? E achas pouco?, Parece-me pouco!

 

Às vezes acredito que está sentado num trono de oiro a olhar-nos A divertir-se à nossa custa e a contar as estrelas do céu, E voltando à nossa conversa Quem pensas que esteve ao teu lado quando mais precisaste E já sei que me vais responder, Os meus pais, E só eles?, que eu saiba Só, E eu? Acreditas que nunca estive ao teu lado?, Sim acredito, Mas não é verdade Sempre estive ao teu lado Sempre, É tudo tão estranho… meu Amigo.

 

Parece-me que a missão dos seres vivos é continuarem a vida para que você sentado num trono de oiro possa olhar-nos e divertir-se à nossa custa e a contar as estrelas do céu, porque se não for assim qual é o sentido de Nascer Crescer Morrer?

 

Nem sei como começar, Pelo princípio Rapaz pelo princípio, então é assim e nem sei como devo tratar-te, deixa lá o tratamento Rapaz o tratamento não importa o importante é o que tens para me dizer, e tanta coisa que tenho para lhe dize que cruzo os braços e finjo que não acredito em si…

 

(texto de ficção)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 17:09

 

(desenho de Luís Fontinha/MiLove)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:40

Acordo e olho-me ao espelho da manhã

E pergunto-me

Pergunto-me – Porquê?

Não serei eu também filho de deus?

Ou deus é pai de uns

E padrasto de outros…

 

Acordo e olho-me ao espelho da manhã

E pergunto-me

“ (Na sequência da sua inscrição para emprego, informamos que ainda não nos foi possível satisfazer o seu pedido de emprego. Se continuar interessado, queira devolver-nos este postal devidamente preenchido, no prazo de 10 dias a contar da data do correio. Se não responder procedemos à anulação da sua inscrição.)”

E é para isto que serve o Centro de Emprego?

Enviarem-me um postal de X em X meses…

Se estou interessado em trabalhar

E não foi para isso que me inscrevi?

 

Acordo e olho-me ao espelho da manhã

E pergunto-me

Pergunto-me – Porquê?

Pergunto-me porque o senhor do Centro de Emprego

Loirinho…

Apontou o meu nome na pasta das reuniões da Barragem Foz-Tua…

 

Apontou

Apontou

E de X em X meses apenas subscritos RSF

Está interessado em trabalhar?

Claro que sim seus parvalhões…

Porque se não estivesse não me inscrevia

 

E apontou

Acordo e olho-me ao espelho da manhã

E pergunto-me

Pergunto-me – Porquê?

E é para isto que serve o Centro de Emprego?

Apontar apontar apontar e enviarem-me subscritos RSF de X em X meses…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:46

 

(desenho de Luís Fontinha/MiLove)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:59

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