Caiem sobre o meu corpo as lágrimas dos plátanos
E ao olhar-me no espelho da noite
Sou um plátano que se desprega lentamente do mar
E nem o vento faz balançar o meu tronco
E nem a chuva cessa as lágrimas dos plátanos
Que caiem lentamente sobre o meu corpo
Sento-me sobre a areia molhada
E com a minha mão faço desenhos nas lágrimas dos plátanos
Desenhos e desenhos e desenhos
Um dos plátanos agacha-se e toca-me
E eu olho-o como se fosse o amanhecer
Embrulhado na toalha da madrugada
O prazer,
Saborear o cachimbo de uma manhã de outono, e cruzar os braços, e não fazer nada, rigorosamente nada.
Não pensar, porque se penso, porque se penso lá se vai o prazer,
O prazer,
Saborear o cachimbo de uma manhã de outono, e hoje é sábado, e não vou pensar, porque se penso, lá se vai o prazer.
E dos poucos prazeres que tenho na vida é o prazer de sentir o cachimbo de uma manhã de outono e olhar pela janela o mar,
E o mar enrodilha-se nos meus lábios, e o mar mistura-se no fumo do meu cachimbo… e desaparecemos dentro da manhã de outono,
O prazer cerra os olhos, o cachimbo da manhã de outono longe e muito longe, e eu de braços cruzados não penso em nada,
Porque se penso, porque se penso lá se vai o prazer.
(desenho de Luís Fontinha/MiLove)
Finjo que tenho aquilo que nunca tive
E nunca vou ter
Finjo que na minha mão crescem malmequeres
E sorrisos pintados de sonhos
E não sorrisos e não sonhos
E nunca vi na minha mão um malmequer