Cresci na proibição de prenunciar a palavra Mar, e antes de morrer a minha mãe chamou-me ao silêncio do leito e segredou-me,
- Meu filho Quero que me prometas uma coisa e eu sem saber do que se tratava prometi-lhe Sim mãe prometo,
E desde então deixei de prenunciar a palavra mar, e desde então cerrei completamente os olhos com um pedacinho de linho para resistir à tentação de dizer o que via, porque não vá o diabo tecê-las e eu dizer o que via e que eles não queriam que eu dissesse, e assim cresci, cresci fingindo que onde brincava o mar habitavam plátanos, e assim cresci, porque há cerca de vinte anos lhe prometi que nunca prenunciaria a palavra mar nem dizia aquilo que os meus olhos viam,
- Prometes? E eu antes de saber o quê Sim mãe prometo,
Sentia-lhe a mão na minha mão e percebia-lhe o cansaço do coração, fraco, muito fraco, e eu prometi que nunca mais prenunciava a palavra mar nem dizia o que os meus olhos viam, e cresci, e cresci acreditando que onde brincava o mar habitavam plátanos,
Sentia-lhe a mão na minha mão e percebi-lhe um pequenos murmúrio que aos poucos despregava-se-lhe dos lábios e alicerçava-se no silêncio do leito,
- Porque eles não querem que prenuncies a palavra mar nem digas aquilo que os teus olhos veem,
E eu prometi-lhe,
- Sim mãe Prometo,
E vinte anos depois e que eles estão a padecer e a enfraquecer e a morrer, e hoje, hoje abri a janela e consegui ver o mar, porque ver é uma coisa e imaginar é outra, e eu cresci na proibição de prenunciar a palavra mar,
E é tão lindo Mãe…
(texto de ficção)