Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

15
Nov 11

Subo as escadas

E desço as escadas

A minha vida são duzentos e cinquenta degraus

Um corrimão

E subo

E desço

As escadas

E subo até ao céu

 

Cansado

De subir até às nuvens

E à noite

E à noite regressar ao rés-do-chão

 

Abrir a porta

Fechar a porta

Corredor e corredor

Desvio-me dos petroleiros

 

Abrir a porta

Fechar a porta…

Abro os bracinhos

E zás… aterrar sobre os lençóis da noite

 

Duzentos e cinquenta degraus

Uma vida de merda

A subir escadas até ao céu…

E deus sempre ocupado ou ausente

 

E oiço a voz de deus

SÓ PARA A SEMANA!

E desço os degraus

Os malditos duzentos e cinquenta degraus…

 

E espero

E espero que o calendário pendurado na cozinha…

Que o calendário caminhe apressadamente uma semana

E que finalmente deus me receba

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:34

 

(desenho de Luís Fontinha/MiLove)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:52

Decididamente não.

Decididamente não voltarei a enviar currículos meus, porque me cansei, porque me cansei de ser humilhado, porque me cansei, e quem diz que pelo facto de eu ter a mania que escrevo e desenho, porque não sei fazer uma coisa nem outra, muita gente pensa que sou louco, está completamente enganada, é com muito prazer ouvir da boca daqueles com quem trabalhei que Sou muito competente e que sei fazer de tudo, mas neste momento não é importante ser competente porque isso de nada serve…

E resta-me um finíssimo fio de esperança, é verdade, candidatar-me a limpar a “merda” de uma qualquer sanita que diga-se é um trabalho tão honesto como os outro e digno, isto é, quanto à sanita penso não ter problemas em ser admitido, pois sento-me nela todos os dias, já quanto à “merda”… já quanto à “merda” acredito que nem essa me quer… para trabalhar.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:56

Cresci na proibição de prenunciar a palavra Mar, e antes de morrer a minha mãe chamou-me ao silêncio do leito e segredou-me,

- Meu filho Quero que me prometas uma coisa e eu sem saber do que se tratava prometi-lhe Sim mãe prometo,

E desde então deixei de prenunciar a palavra mar, e desde então cerrei completamente os olhos com um pedacinho de linho para resistir à tentação de dizer o que via, porque não vá o diabo tecê-las e eu dizer o que via e que eles não queriam que eu dissesse, e assim cresci, cresci fingindo que onde brincava o mar habitavam plátanos, e assim cresci, porque há cerca de vinte anos lhe prometi que nunca prenunciaria a palavra mar nem dizia aquilo que os meus olhos viam,

- Prometes? E eu antes de saber o quê Sim mãe prometo,

Sentia-lhe a mão na minha mão e percebia-lhe o cansaço do coração, fraco, muito fraco, e eu prometi que nunca mais prenunciava a palavra mar nem dizia o que os meus olhos viam, e cresci, e cresci acreditando que onde brincava o mar habitavam plátanos,

Sentia-lhe a mão na minha mão e percebi-lhe um pequenos murmúrio que aos poucos despregava-se-lhe dos lábios e alicerçava-se no silêncio do leito,

- Porque eles não querem que prenuncies a palavra mar nem digas aquilo que os teus olhos veem,

E eu prometi-lhe,

- Sim mãe Prometo,

E vinte anos depois e que eles estão a padecer e a enfraquecer e a morrer, e hoje, hoje abri a janela e consegui ver o mar, porque ver é uma coisa e imaginar é outra, e eu cresci na proibição de prenunciar a palavra mar,

 E é tão lindo Mãe…

 

(texto de ficção)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:05

publicado por Francisco Luís Fontinha às 17:19

Sou um incompetente

Habilitado

Sou culto

Sou um incompetente

Ainda não licenciado…

Mas tenho frequência do segundo ano de engenharia

Mecânica

Sou um incompetente

Habilitado

Revoltado

Sou culto

E às vezes… muito mal criado

 

Sou um incompetente

Habilitado

E ninguém e ninguém e ninguém…

Me dá trabalho porque sou um incompetente muito habilitado

publicado por Francisco Luís Fontinha às 15:21

Entre as linhas da vida

Movimento-me cambaleando nas travessas da noite

Pareço um comboio desgovernado

Galgando socalcos

Olhando o rio

Fingindo sorrir

 

Entre as linhas da vida

O peso do meu corpo adormece

E as minhas mãos poisam nos cansaços da manhã…

Os carris crescem e crescem e crescem

E os socalcos descem e cerram-me os olhos

E finjo e finjo e finjo… que galgo os socalcos

 

Entalados entre as linhas da vida

Entre as linhas da vida

Pareço um comboio desgovernado

Um corpo empalhado e espetado na biqueira da solidão

Um corpo amordaçado

Que caminha e caminha e caminha até encontrar um porto de abrigo

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:58

 

Como escreveu o meu amigo António Luís Grifo “O caminho faz-se caminhando”, e não faço eu outra coisa, caminhar e caminhar e caminhar…

Porque só caminhando conseguirei encontrar o meu porto de abrigo…

 

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:28

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