O vazio das horas
Quando rompem repentinamente
Os dias ocos
E encharcados de solidão,
Penduram-se na janela
As flores estupidamente mortas
Com pássaros estupidamente adormecidos,
Estendo os braços
Cerros os braços,
Dou-me conta que estou vivo
E tal como ontem,
Anteontem
E amanhã…
Nada aconteceu
Nada previsto acontecer,
O vazio das horas
Quando rompem repentinamente
Os dias ocos
E encharcados de solidão,
As flores estupidamente mortas
Com pássaros estupidamente adormecidos,
E eu,
E eu estendo os braços
Cerros os braços,
E dou-me conta que estou vivo
E sou um mecanismo
Composto por milhões de pequeninos mecanismos…
Que me fazem estender os braços
E cerrar os braços,
No vazio das horas
Quando rompem repentinamente
Os dias ocos
E encharcados de solidão…
E é assim a minha vida.
Alguma coisa estranha dentro de mim, era capaz de escrever dez poemas por dia, cinco ou seis textos de ficção por dia, e outros tantos desenhos, tudo apenas num dia, a coisa estranha, alguma coisa estranha dentro de mim, a coisa estranha é que tudo o que escrevo durante o dia ou desenho visita-me durante a noite enquanto durmo ou finjo dormir,
Alguma coisa estranha dentro de mim,
E vejo os meus textos e poemas que ainda não escrevi e vejo os meus desenhos que ainda não desenhei enquanto durmo ou finjo dormir,
Alguma coisa estranha dentro de mim como se alguém pelo silêncio da noite me injetasse as palavras que vou escrever e os desenhos que vou desenhar…