Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

02
Nov 11

Desenho-te numa tela

E dos solstícios de cores

A minha mão perde-se no cabelo das árvores

E um pássaro adormece sobre ti,

 

Desenho-te numa tela

Noite que desce pela chaminé

E adormece junto à lareira extinta…

Um livro fecha-se

 

E as palavras enterram-se no meu pescoço,

E o meu corpo deixa de fazer sentido,

E no meu corpo uma âncora

Suspensa à maré,

 

No meu corpo escrevem-se sílabas desassossegadas,

Aos meus olhos regressa a saudade

E a fogueira que se extinguiu na lareia

Atada aos pedaços de pele…

 

E a minha pele começa a voar,

Os grãos de areia em círculos sobre o mar

Que na noite desce pela chaminé

E extingue a fogueira da saudade…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:01

Sonhos,

Os meus,

Cordéis enrodilhados na copa de uma árvore,

Nuvens escuras poisadas no meu jardim,

Sonhos irrealizáveis

E impossíveis,

Os meus,

Sonhos,

Pedaços de papel

Que voam e se alicerçam aos lábios do vento…

Sonhos,

Os meus,

Uma noite sem lua,

A manhã sem sorriso,

Uma noite sem estrelas…

Os meus,

Sonhos,

Impossíveis,

Irrealizáveis,

Ausentes,

Cordéis enrodilhados na copa de uma árvore,

Nuvens escuras poisadas no meu jardim,

E todas as flores adormeceram

E todas as flores morreram…

E todas as pessoas se ausentaram de mim.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:56

Visto-me de noite

E espero,

Espero que venhas acender a luz dos meus olhos,

Espero e espero e espero…

E hoje percebi que nunca virás,

Visto-me de noite

E espero,

Espero

E ficarei sempre noite.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:15

02
Nov 11

 

(desenho de Luís Fontinha/MiLove)

 

Tu és uma pétala de rosa e eu sou a madrugada,

- Vermelha, sou uma pétala de rosa vermelha,

Sim querida Tu és uma pétala de rosa vermelha e eu sou a madruga pendurada numa palmeira junto ao rio,

- Porque queres ser a Madrugada? Podias ser a noite que desce lentamente sobre a minha pétala de rosa vermelha,

Podia Pergunto-me?

- Claro que sim Parvalhão,

E imagino a noite escura a caminhar sobre a claraboia do sono dela e desço, e lentamente começo a descer até poisar na pétala de rosa vermelha agarrada ao caule dos lençóis, e imagino, eu a noite escura misturada com o vermelho dela,

E quando toco no caule, zás, um espinho, e eu que sou a noite embrulhado nas lágrimas do sangue vermelho, e deixo de ver a pétala de rosa vermelha,

- Não sentes o perfume da minha pétala de rosa vermelha? E eu que sou a noite não tenho visão não tenho olfato não tenho nada… apenas sou um silêncio pintado de negro,

Não, não sinto o teu perfume de pétala de rosa vermelha,

- Claro que sim Parvalhão,

E claro que não, e a noite, eu que sou a noite deixo um beijo na pétala de rosa vermelha e começo a subir, quando passo pela claraboia do sono dela encolho-me, Ai, e passei e subi, subi até o negro acordar e a noite deixar de ser noite,

E eu deixar de ser eu,

Podia Pergunto-me?

Podia, podia ser a madrugada,

Mas a pétala de rosa vermelha quer que eu seja a noite,

Um silêncio pintado de negro…

 

(texto de ficção)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:08

É-me difícil ser eu

O eu defeituoso que vive numa caixa de sapatos

Com uma tampa de vidro

E paredes de papel,

 

É-me difícil ser eu,

Duzentos e seis ossos e uma cabeça de abobora

Dois braços finos como um pincel

E nas pernas as raízes apodrecidas do desassossego,

 

E tenho de ser eu,

É-me difícil ver-me ao espelho da noite

E pela tampa de vidro

Da caixa de sapatos onde vivo…

 

Descem tentáculos

Que se enrolam aos meus duzentos e seis ossos

E levam as minhas mãos…

Os tentáculos comem as minha mãos,

 

E fico proibido de abraçar

O mar e o Tejo,

Em seguida,

Os tentáculos comem-me os olhos…

 

E deixo de ver as gaivotas

E deixo de ver o meu corpo seminu

Embrulhado nos lençóis da manhã

E deixo de ser eu,

 

É-me difícil ser eu

O eu defeituoso que vive numa caixa de sapatos

Com uma tampa de vidro

E paredes de papel,

 

O eu sem braços

O eu sem olhos

O eu sendo eu não sou o eu…

E as paredes de papel começam a arder,

 

A noite esconde-se na Ajuda,

E procuro o meu corpo

Dentro do estômago do Tejo

E vejo um outro eu com o meu corpo,

 

É-me difícil ser eu

Dentro desta caixa de sapatos

Com tampa de vidro…

E paredes de papel,

 

E hoje vivo sem corpo…

À procura dos meus braços

À procura dos meus olhos,

Dentro de uma caixa de sapatos com uma tampa de vidro e paredes de papel…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:11

 

(desenho de Luís Fontinha/MiLove)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:04

O beijo,

Dois lábios que se abraçam

Dentro de quatro paredes de vidro

E refletem fios de sémen

Antes de acordar a manhã,

O corpo dela funde-se nos ais

Da noite e da janela do mar…

Dois lábios que se abraçam,

O beijo,

O corpo dele é mastigado

Pela dentadura da madrugada

E desce à garganta do desejo

Como um pétala de rosa quando acorda,

O beijo,

Dois lábios que se abraçam

Dentro de quatro paredes de vidro…

E numa cama invisível

Dois corpos invisíveis

À volta do néon suspenso nas mãos do pôr-do-sol,

E dois lábios se abraçam

E desce à garganta do desejo

O beijo.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 15:21

Há um ruído estranho

Na escuridão da noite

Há uma pancada forte que bate no meu corpo

E desaparece através do espelho do guarda fato

 

Há um ruído estranho

Na escuridão da noite

Um pêndulo suspenso no teto…

Esconde-se no espelho do guarda fato

 

E bate no meu corpo

Uma pancada seca

Misturada em silêncios de rosa

Há um barulho estranho

 

Na escuridão da noite…

Uma nuvem que desce e se abraça

Ao meu corpo estranho

Encolhido nos lençóis da solidão

 

Há um ruído estranho

Na escuridão da noite

Há uma pancada forte que bate no meu corpo

E desaparece através do espelho do guarda fato

 

Entra e sai

Há um ruído estranho

Na escuridão da noite

Que só terminará quando eu adormecer.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:45

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