Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

31
Dez 11

 

59,4 x 84,1 (desenho de Francisco Luís Fontinha)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:24

Me encantam os teus olhos de amêndoa

Suspensos nas alegrias da manhã

Me encanto nos teus lábios de poema

Sobre os meus braços

 

Deitados nas sílabas da minha língua

Me encantam os teus olhos

Me encantam as tuas mãos

Sobre os meus braços

 

Dentro do meu corpo

Na busca de um beijo

Ou de um simples olhar…

 

Me encantam os teus olhos de amêndoa

Suspensos nas alegrias da manhã

Quando acordas

E escreves no meu peito

Com as tuas frases em desejo

Que crescem das tuas mãos que me encantam

 

Nas alegrias da manhã

Dos teus lábios de poema

Dentro do meu corpo

Na busca de um beijo

Ou de um simples olhar…

Escreves no meu peito; Amo-te.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:38

30
Dez 11

 

59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:01

 

30 x 60 Acrílico sobre tela – Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:20

A solidão dói

A cabeça incha

O corpo mingua

 

Sobejam flores de saliva

Nos meus lábios de algodão

Afina-se um fio de luz na garganta da morte

Onde abelhas sem asas brincam com as nuvens de ontem

E na água silenciosa da manhã

Mergulha o rio da saudade

 

A solidão constrói sorrisos

Nos cortinados amarrotados do corredor sem portas

O teto desce até ao soalho

 

E a dor da solidão

Enrola-se à cabeça inchada

Suspensa no corpo invisível

Sem portas

Sem janelas

Ente o teto e o pavimento

 

O corpo minguado desfaz-se em poeira

E o vento a leva

E o mar a engole

Na garganta da morte

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:18

29
Dez 11

 

59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:54

 

84,1 x 59,4 (desenho de Luís Fontinha)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:20

 

59,4 x 84,1 (desenho de Luís Fontinha)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:12

 

59,4 x 84,1 (desenho de Luís Fontinha)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:07

Nunca vi o mar,

A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu passava as tardes a olhar o mar, e eu passava as tardes a ouvir o mar que no canto esquerdo da alcofa batia contra as rochas imaginárias e quando a maré acordava e eu adormecia, o som melancólico e poético do mar entrava em mim e encharcava-me de luzes e de estrelas de papel,

- Porquê mãe,

De luzes e de estrelas de papel saltitando na areia finíssima da ilha do Mussulo, o meu filho pequeníssimo fitando o oceano invisível dentro da alcofa, o meu filho agarrado aos braços da mãe e olhar-me enquanto eu sentado numa cadeira de praia recordava as mangueiras no fim de tarde quando a Bedford amarela se imobilizava depois de caminhar de musseque em musseque, eu chegava a casa, eu chegava a casa e ele deitado a brincar com o mar,

- É tão pequenino Segredava ele para a enfermeira na primeira visita que me fez quando eu misturado com outros pequeninos e de etiqueta no pé para não me ausentar e perder nas ruas de Luanda,

E hoje pergunto-me,

- Nunca vi o mar,

E hoje pergunto-me, A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo desenhava o mar no teto da alcofa, um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e hoje pergunto-me a razão de uma etiqueta suspensa no pé minúsculo, ele de olhos abertos e agarrado aos meus braços fingia que olhava o mar mas eu sabia que não, hoje sei que ela desenhava o mar na alcofa para que eu mais tarde, muitos anos passados, percorra as ruas de Luanda em busca do mar,

- Porquê mãe,

E nunca vi o mar, Um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer, e eu, e eu passava as tardes a olhar o mar, e eu passava as tardes a ouvir o mar que no canto esquerdo da alcofa batia contra as rochas imaginárias e quando a maré acordava e eu adormecia, o som melancólico e poético do mar entrava em mim e encharcava-me de luzes e de estrelas de papel,

- A Bedford amarela para não se perder nas ruas de Luanda, uma etiqueta suspensa no pé minúsculo, eu sentado numa cadeira de praia a ouvir a sombra das mangueiras que batia contra os domingos entre conversas e meia dúzia de Cucas,

As palmeiras murchavam e desciam até à marginal, e ele agarrado ao meu pescoço sonhava com triciclos e papagaios de papel dançando no céu, e adormeci com ele ao meu colo, e ele caiu e quando aterrou no pavimento ouvi-lhe as primeiras palavras,

- Mãe O mar é tão lindo,

Os domingos entre conversas e meia dúzia de Cucas, será que alguém vai ler esta porcaria,

- Pergunto-me Porquê mãe,

Será que alguém vai ler esta porcaria quando as mangueiras desciam até ao capim e as pombas sobre um triciclo de madeira,

- Voavam,

A Bedford amarela estacionada junto ao portão do quintal e ao longe o avô Domingos de braços abertos e me abraçava e me pegava ao colo, eu pendurado no seu pescoço com um olho a ver o mar no teto da alcofa e com o outro a contar os carros em direção ao Grafanil, Catete, Bairro Madame Berman,

Um cavalo branco saltitava e pegava em mim e me levava a ver o mar,

- Mãe O mar é tão lindo,

A minha mãe sonâmbula nas noites de cacimbo e eu tombei e quando aterrei no pavimento,

- Mãe O mar é tão lindo,

Ele sentado numa cadeira de praia a imaginar domingos e conversas entre meia dúzia de Cucas,

- Tão pequenino ele,

Um círculo com olhos verdes e sorrisos e cheiros que aprendi a distinguir antes de adormecer…

 

(texto de ficção)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 14:57

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