Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

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Dez 11

 

59,4 x 84,1 (desenhos de Luís Fontinha)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:28

E corria como um pássaro nos corredores da loucura, abria a janela virada para o jardim imaginário e pintava o rio entre as árvores sombrias de maio, sentava-me e chapinhava nos sorrisos da água até me cansar, cansar-se o rio da minha mão, e corria como um pássaro nos corredores da loucura,

E abria a janela,

E pegava na minha mão,

Abria a janela e pegava na minha mão quando percebia que os lábios do rio fingiam beijos e as árvores fingiam sombras,

É noite,

E da janela, do outro lado do corredor da loucura, vinha até mim o prato de sopa vazio lançado por um louco mais louco do que eu, enormeee, e o louco sorria-me e abraçava-me nos aciprestes da memória,

E corria,

Os pássaros brincavam no corredor da loucura e penduravam-se nos olhos do louco, eu, eu cruzava os braços, eu descruzava os braços, e um parvalhão de cinco em cinco minutos a perguntar-me as horas,

- Que horas são?

Pensava eu horas de comprares um relógio na feira da ladra ou do relógio ou da puta que te pariu,

- Que horas são?

O doutor também ele louco agrafado à ombreira da porta a olhar-nos, e nós, nós a cambalear cabeças e braços nos pratos engraçados e poisados sobre a mesa,

O louco mais louco do que eu atira uma frase ao doutor também ele louco,

- Oh doutor… o senhor é mais maluco do que nós,

E o parvalhão a perguntar-me,

- Que horas são?

E que sim respondia o doutor agrafado à ombreira da porta quando pratos e talhares experimentavam voos curvilíneos sobre as árvores sombrias de maio, E corria como um pássaro nos corredores da loucura, abria a janela virada para o jardim imaginário e pintava o rio,

E o jardim imaginário estava-se borrifando para mim e para o louco mais louco do que eu e para o doutor também ele louco,

- Que horas são?

E igualmente para este parvalhão.

 

(texto de ficção)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:00

 

59,4 x 84,1 (desenho Luís Fontinha)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:38

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:04

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