Todas as flores são parvas
E parvas são as minhas palavras
Quando comidas por abelhas gananciosas
Depois do almoço
Das flores parvas
Nascem as minhas palavras parvas
Que um parvalhão
Semeia na ardósia junto à ribeira
E eu
E eu sou tão parvo como as flores parvas
Porque semeio as minhas palavras
Porque sou eu o parvalhão
Sentado numa pedra
A olhar as flores parvas e as abelhas gananciosas
A comerem as minhas palavras
Que substituíram por pão
Depois do almoço
Malditas flores parvas
Que comem as minhas palavras
Parvas
Que eu semeei na ardósia junto à ribeira
Roubaram-me o sorriso
E acorrentaram-me à solidão
Fizeram das ruas um corredor sem juízo
E das janelas um sonho sem coração
Roubaram-me o mar
E as palavras que tinha para escrever
Fizeram das ruas um cemitério sem luar
Fizeram das ruas uma noite para esquecer
Roubaram-me o amanhecer
E a vontade de amar
Roubaram-me o sorriso
E acorrentaram-me à solidão
Fizeram das ruas um corredor sem juízo
E das janelas uma prisão