Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

03
Jan 12

 

59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:29

Hoje não Dói-me a cabeça,

- Hoje não Ontem não E na semana passada estavas com cãibras, Não é verdade só que hoje foi um dia cansativo muito cansativo e estou com uma tremenda dor de cabeça, e ontem,

Ontem o doutor dos parafusos de chave de fendas na mão a alinhar-me a direção e um aperto aqui outro ali e não me queixo que me dói a cabeça, mas sinto que lá dentro alguma peça desprendeu-se porque quando me viro repentinamente oiço o batimento metálico contra a fechadura dos sonhos, e o doutor dos parafusos,

- Mostra-me os pulsos francisco,

E eu mostro-lhe os pulsos e eu mostro-lhe os olhinhos Não é verdade doutor?, desde a segunda consulta que me quer ver os pulsos e desde a segunda consulta que me quer ver os olhinhos, e

- Porque na primeira consulta enclausurei-te dentro do jardim imaginário com árvores imaginárias e pássaros invisíveis,

E vamos lá ver esses pulsos e esses olhinhos o doutor dos parafusos para nós pássaros em voos curvilíneos no corredor da enfermaria onde o jardim imaginário e as árvores imaginárias e os pássaros invisíveis,

- Que têm os pássaros invisíveis francisco?,

Os olhinhos verdes castanhos vermelhos e

- E o raio que o parta que há mais de vinte e quatro horas que durmo como uma pedra ou pior Durmo com uma pedrada como nunca tinha experimentado, É dos pássaros invisíveis respondia-me o doutor dos parafusos,

E o Alex furibundo no corredor Foda-se ir a Fátima a pé…,

- E hoje juro que ia,

E as árvores imaginárias desciam pelo silêncio da noite quando o doutor dos parafusos munido de uma porção mágica

- Três gotinhas no leite e vais ver francisco,

E eu via as árvores imaginárias com os braços apoiados no parapeito da janela com grades de ferro para nós pássaros invisíveis não fugirmos para o jardim imaginário onde só o filho da puta do Alex podia passear porque sabia o segredo de coma atravessar a parede, e durante a noite pegava-me não mão e,

- Três gotinhas no leite e vais ver francisco,

E levava-me com ele e só regressávamos quando começava a clarear o dia, e hoje juro que ia, mas hoje não Dói-me a cabeça Hoje não Ontem não E na semana passada estava com cãibras, e hoje os pássaros invisíveis à nossa espera e impacientes no corredor e desde esse dia nunca mais regressamos, e só às vezes,

- Truz-truz truz, O doutor dos parafusos Sim faça favor E respondo-lhe que é para apertar os parafusos E claro a conversa de sempre O jardim imaginário Os pássaros invisíveis e outra coisa qualquer imaginária que me esqueci

Talvez o Alex a atravessar a parede da enfermaria, não me queixo que me dói a cabeça, mas sinto que lá dentro alguma peça desprendeu-se porque quando me viro repentinamente oiço o batimento metálico contra a fechadura dos sonhos, e o doutor dos parafusos,

E claro a conversa de sempre Mostra-me os pulsos e os olhinhos, e o Alex a atravessar a parede da enfermaria…

Mas sinto que lá dentro alguma peça desprendeu-se porque quando me viro repentinamente oiço o batimento metálico contra a fechadura dos sonhos, e o doutor dos parafusos,

Entre mim e o jardim imaginário e os pássaros invisíveis e uma outra coisa qualquer coisa imaginária…

 

(texto de ficção)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:28

Dentro da garganta dos sonhos

Uma língua de fogo incendeia o meu corpo

E das minhas mãos desprendem-se malmequeres

E botões de rosa

E palavras desconexas que se perdem no vento

E palavras parvas nos meus olhos parvos dão vida aos poemas

 

Que semeio nas paredes escuras do corredor da morte

Sento-me sobre uma pilha de livros

E rezo

E esqueço-me que a fogueira consome os meus braços

E esqueço-me que na garganta dos sonhos

Um fio de luz prende-me à vida e não me deixa partir

 

Dentro da garganta dos sonhos

Pinto o mar na digestão da solidão

E os sonhos engolem as minhas cinzas

Engolem as minhas palavras

Engolem o mar que pintei na digestão da solidão

E rezo

 

Rezo que das minhas cinzas cresçam poemas

E das minhas mãos os malmequeres e os botões de rosa

Subam ao céu

E repousem junto a um buraco negro

Longe muito longe infinitamente longe

Onde as minhas palavras parvas e os meus olhos parvos

 

Brincam de mão dada a duas parvas retas paralelas

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:35
tags: , ,

Janeiro 2012
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6
7

8
9





Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds
Posts mais comentados
mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO