Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

05
Jan 12

O problema não é a solidão nem a queda da folha nem a chuva nem o vento, o problema é que estamos velhos Queixam-se os plátanos do jardim quando por lá ando durante a noite a matar o tempo e a esconder-me das estrelas,

- Deseja fatura? Não Não desejo e nunca vou pedir e se quiserem multem-me Para que raio precisa de fatura um desempregado? Só se for para enfiar…

Para enfiar a linha nu cu da agulha a minha avó silvina quase com noventa anos não precisava de óculos Esticava o bracinho esquerdo onde religiosamente segurava na agulha e com o braço direito zás e nunca falhava e eu saboreava aquele momento de excitação em que um pedacinho de linha entrava sem qualquer sacrifício no buraquinho da agulha,

- A fatura se faz favor E eu não tenho e eu não pedi Porquê? Vou ter que o multar e Multe e faça o que quiser vá para o raio que o parta,

E eu pergunto-me se hoje a avó silvina fosse viva Estás tão magro meu filho Ando a fazer dieta E eu pergunto-me onde está a fatura dos cigarros que tiro nas máquinas estacionadas nos cafés,

- Enfio as moedinhas carrego no botão e cigarros para um lado e fatura para enfiar…, Nada, E eu pergunto-me se também vão multar a máquina dos cigarros por não dar fatura,

E eu pergunto-me se hoje a avó silvina fosse viva E respondo-lhe que ando em dieta Ando em dieta Avó sabe como é nos tempos que correm não se pode comer muito e evita-se a diabetes e a obesidade e

- O cardápio se faz favor Cardápio segreda-me a enfermeira Sim Cardápio Não sabe o que é? Quando se entra numa urgência é preciso primeiro saber muito bem os preços das coisas,

E se fosse hoje possivelmente o teu avô não diabetes Não vá o diabo tesselas e sair daqui sem calças e sem rabo e a avó silvina quase com noventa anos não precisava de óculos Esticava o bracinho esquerdo onde religiosamente segurava na agulha e com o braço direito zás,

- Enfie a fatura no

Zás e a linha transformava-se nas ondas do mar do Mussulo sobre a areia limpa da manhã quando me pegava na mão e me obrigava a ir à missa e eu furioso a olhar para o teto da capela do Bairro Madame Berman,

- O problema não é a solidão nem a queda da folha nem a chuva nem o vento, o problema é que estamos velhos Queixam-se os plátanos do jardim quando por lá ando durante a noite a matar o tempo e a esconder-me das estrelas E vejo a avó silvina quase com noventa anos a enfiar a fatura no cu da agulha Fatura qual Fatura Não pedi fatura,

E vejo a avó silvina quase com noventa anos a enfiar a linha no cu da agulha e sem óculos,

O cardápio se faz favor Cardápio segreda-me a enfermeira Sim Cardápio Não sabe o que é?

 

(texto de ficção)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:01

 

84,1 x 59,4 – Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:45

Aos teus lábios de amanhecer

Peço um desejo

Que a manhã depois de crescer

Na minha mão acorde um beijo,

 

Aos teus lábios de amanhecer

Um abraço se alicerça ao teu olhar

Um sorriso vai nascer

Nas gaivotas que brincam no mar,

 

E voam sem parar

E voam nos desejos da tempestade

As gaivotas que brincam no mar,

 

Que nos teus lábios de amanhecer

Cesse a saudade

E todos os dias de sofrer…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 09:07
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Janeiro 2012
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