Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

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Jan 12

O filho não é dele,

Sempre soube que não era o pai do rapaz porque quando o olhava não as mesmas orelhas pontiagudas como eu e como o meu pai, o filho não é dele e o parvalhão nem desconfia E claro que não meu,

- Porque me mataste pai,

Eu sim Seria teu filho igual a ti e igual ao teu pai com orelhas pontiagudas, porque me mataste pai?, e eu não te matei Mas deixaste que me matassem, sempre soube que não era o pai do rapaz porque as acácias deixaram de florir e os plátanos de sorrir,

- O que são acácias Pai?,

E não deixei Simplesmente cruzei os braços e fiquei a olhar o mar Como sempre pai como sempre Cruzas os braços e ficas a olhar o mar, e quando perguntei por ti responderam-me Foi às ortigas E pronto,

- Continuei tal como continuo hoje de braços cruzados a olhar o mar e a esquecer-me que as acácias deixaram de florir e que os plátanos deixaram de sorrir e que a noite é triste e que da noite vem a solidão e se abraça ao meu pescoço e abro a janela e finjo ver o mar debaixo dos plátanos a escrever poemas no areal do Mussulo, e deixei que te matassem e deixei que me roubassem os sonhos, e hoje

E hoje,

E hoje sou o quê?

- E hoje o parvalhão olha-o e chama-lhe filho mas o filho não é dele E hoje E hoje sou o teu pai Que deixaste que me matassem Não deixei,

Cruzei os braços e fiquei a olhar o mar Como sempre pai como sempre Cruzas os braços e ficas a olhar o mar, e quando perguntei por ti responderam-me Foi às ortigas E pronto,

Como sempre filho Como sempre Cruzo os braços e finjo ver o mar debaixo dos plátanos a escrever poemas no areal do Mussulo, E era o que me faltava ter um filho daquele miserável Nem morata,

- E hoje sou o quê?

E hoje sou um menino que cruza os braços e olha o mar e sonha com papagaios de papel e com as mangueiras do quintal de Luanda Porque me mataste pai?,

- E claro que não porque as orelhas não pontiagudas como eu e como o meu pai E não te matei filho Não te matei Simplesmente cruzei os braços e fiquei a olhar o mar,

Como sempre pai como sempre Cruzas os braços e ficas a olhar o mar,

- E quando perguntei por ti responderam-me Foi às ortigas E pronto

O que são acácias Pai?

- Cruzo os braços e fico a olhar o mar

E ponto.

 

(texto de ficção)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:45

 

59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:29

 

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publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:17

 

59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 17:48

 

59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 13:51

(À Sarinha Maria)

 

Construo silêncios nos teus olhos

E pinto desejos na tua boca

E escrevo poemas nos teus lábios

Construo abraços nos teus braços

E desenho no teu corpo a manhã cinzenta

Engasgada na neblina

 

Construo nos teus olhos o mar

Quando poisa na areia e incendeia

Palavras que substituo por beijos

Palavras que ardem na fogueira

 

Construo silêncios nos teus olhos

E finjo adormecer sobre o teu peito

E não consigo dormir

E não consigo sonhar

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:52
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59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:51

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