Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

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Jan 12

 

59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:12

 

84,1 x 59,4 – Francisco Luís Fontinha

 

A cidade tem os seus medos

Tem a noite

E portas e muitas portas

De saída

De entrada

Na garganta da cidade

As escadas para o sótão

A claraboia com vista para o tejo

Vão e vêm as sombras cansadas com as mãos na algibeira

Entram nas portas de entrada

Fingem que dormem

E os sexos embrulhados em papel de parede

Descem e mergulham no pavimento encharcado

À porta de saída

Uma minissaia presa a um candeeiro

À porta de entrada

Um magala à espera de um cigarro

E na rua junto ao rio

Um automóvel abraçado aos silêncios de Belém

Olha com desdém para a minissaia

E sorri ao magala

O magala entra e senta-se

E os silêncios de Belém

Acariciam-lhe as pernas até que a noite poise neles

E os misture num fumo branco de medo

E sémen

 

A cidade tem os seus medos

Tem a noite

E portas e muitas portas

De saída

De entrada

 

A cidade é uma merda.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:42

 

59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

 

Se estou deitado e nunca mais me levantarei desta caixa de madeira pergunto-me Fato e gravata e sapato pontiagudo e barba desfeita para Quê,

- Possivelmente vou a alguma entrevista de emprego ou pior Ser submetido aos olhos de deus quando chegar à presença dele e se algum dia lá chegar ele vai olhar-me e sussurrar-me Que lindo,

Nem na morte sou feliz Foram as últimas palavras que lhe ouvi antes de cerrar os olhos numa tarde em Luanda quando os machimbombos engasgados junto à Maria da Fonte o avô domingos descruzava os braços e fazia-se ao caminho e desfeito em silêncios e nuvens de algodão começava a cair-lhe a noite sobre os ombros largos devido aos rolos de pinheiro que carregou durante anos e anos e anos E para quê,

- Que lindo

E ao chegar ao portão de entrada o neto em abraços Que lindo,

- E para quê se nunca mais me levantarei desta maldita caixa de madeira e eu que sempre disse que não queria fato nem gravata nem sapatos porque me aleijam e porque nunca gostei de estrear calçado nem calças Sou alérgico sabe, e estes gajos contra a minha vontade Nem na morte sou feliz,

Em abraços Que lindo e poisava no bairro uma finíssima pelicula de malmequeres e beijos e ais e

- Que lindo,

E porque só desfaço a barba um vez por semana Era preciso desfazerem-me a barba e vestirem-me um fato e a gravata Horrível branca com bolinhas encarnadas que olhando-me ao espelho pareço o chulo da esquina junto ao rio com um caderninho na mão a apontar as horas das cabras saltitantes que pastam nos lençóis inseminados com sémen Chinês porque sempre é mais barato nas pensões decrépitas da cidade agoniada pelo fumo dos cigarros e lágrimas de crocodilo,

- E pergunto-me porquê Que lindo eu aos olhos dele E nem sei se o deva tratar por senhor ou majestade Não sei,

Ai menina Gosto de si E perguntava-lhe em voz de defunto se queria casar com ele Nem morta Era o que me faltava Casar-me com este nojento guardião de crocodilos em pau-preto e conchas compradas em São Tomé e Príncipe,

- Possivelmente vou a alguma entrevista de emprego,

E não casei com ele,

- Só pode ser uma entrevista de emprego porque caso contrário não me enfeitavam desta forma esquisita e que sempre detestei e Horrível branca com bolinhas encarnadas,

Descruzava os braços e fazia-se ao caminho e desfeito em silêncios e nuvens de algodão começava a cair-lhe a noite sobre os ombros largos devido aos rolos de pinheiro que carregou durante anos e anos e anos até que decidiu rumar a Luanda e durante anos e anos e anos a passear machimbombos pelas ruas,

- E não casei com ele e hoje arrependo-me Horrível branca com bolinhas encarnadas E hoje arrependo-me e hoje poisa sobre mim a solidão e as noites de inferno que entram pela janela e se deitam no meu colo e eu e eu afogo-lhe os cabelos e penso nele deitado numa caixa de madeira com a barba desfeita e um fato e uma gravata e sapatos pontiagudos,

Horrível branca com bolinhas encarnadas.

 

(texto de ficção)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:44

 

59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:13

Saberei caminhar

Depois de acordar?

E quando descerem as estrelas

E se entranhar a noite nos meus olhos…

Saberei eu descerrar o cortinado da miséria

Depois de acordar?

 

Saberei escrever

Nas pétalas do teu olhar?

 

Não sei se conseguirei caminhar

E descerrar…

 

A insónia do amanhecer

publicado por Francisco Luís Fontinha às 15:07
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59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 13:56

 

59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:58

 

59,4 x 84,1 – Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:41

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