Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

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Jan 12

Sou um mendigo dos tempos modernos,

Culto e inteligente e prostituo-me intelectualmente, sento-me à mesa do café e converso de politica e converso de economia e que os mercados são uma merda e que se fodam todos, falo aos meus amigos de literatura e poesia e pintura, já fumei toda a merda que há para fumar e leio muito, e li também muita merda, e leio muito porque estupidamente o meu pai quando eu menino dizia-me que ler era muito importante, mas o meu pai esqueceu-se ou não previu a chegada do vinte e cinco de abril e que uma cambada se ia instalar pelas árvores dos jardins, meus deus, tantos macacos em tão poucas árvores, e assim atualmente não importa se li muito ou se tenho habilitações,

Importam as árvores,

Falo aos meus amigos de António Lobo Antunes, e meus deus, o que seria de mim sem os livros dele, falo aos meus amigos de Saramago Cesariny AL Berto Luís Pacheco Milan Kundera Proust Gogol Tolstoi Dostoevsky, falo aos meus amigos de literatura Cubana, e gosto e adoro, falo aos meus amigos do Big Bang e da partícula de deus e de hipercubos,

Mas continuo a ser um mendigo dos tempos modernos que pediu a isenção de taxa moderadora, um mendigo dos tempos modernos que depois da palestra tem direito a tomar café e água sem gás e um maço de cigarros, porque os meus amigos são porreiros, e é tão fácil ser prostituto intelectual,

Faço programas em folhas de cálculo e tive lições de estruturas, foi um prazer estudar aços e ligas metálicas e termodinâmica e física e matemática, mas o que eu gosto,

Mas o que eu gosto é de ser prostituto intelectual e falar aos meus amigos de literatura e falar aos meus amigos de poesia e falar aos meus amigos de pintura, escrevo umas merdas e pinto outras tantas, e leio

E leio muito,

E antes de me deitar olho-me ao espelho e do outro lado um filho da puta qualquer sorri-me e eu sorrio-lhe e pergunta-me E pergunta-me se sou feliz,

E que mais eu posso querer Respondo-lhe Eu tenho tudo,

E claro que sou feliz porque enquanto tiver livros do António Lobo Antunes para ler sou muito feliz,

Sou um mendigo dos tempos modernos, Culto e inteligente e prostituo-me intelectualmente, sento-me à mesa do café e converso de politica e converso de economia e que os mercados são uma merda e que se fodam todos,

Vou fazendo uns bicos (e o escritor alerta que bicos são pequenos trabalhos e não broches),

Tomo comprimidos para dormir receitados pelo meu amigo psiquiatra, porque sendo um mendigo profissional dos tempos modernos, tenho alguns amigos porreiros,

E vou fazendo uns bicos e confesso que sim,

Sou feliz,

Enquanto tiver livros de António Lobo Antunes para ler, muito feliz,

E que deus lhe dê muita saúde.

 

Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:03

 

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Sento-me

Cruzo os braços

E espero que o tempo se alimente do meu corpo

E quando chegar a noite

 

E quando chegar a noite

Uma finíssima folha de poeira se alicerce nos meus olhos

E todas as minhas palavras

 

E todas as minhas palavras cessem

E todas as minhas palavras morram

Na garganta do poema

Crucificadas nas mãos de um texto ficcionado

E toda a minha vida

Um número de circo sem sentido

 

Sento-me

Cruzo os braços

 

E dou-me conta que morri

publicado por Francisco Luís Fontinha às 13:02

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