Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

29
Fev 12

 

50 x 60 Acrílico sobre tela – Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:53

(Às vítimas do caciquismo)

 

Os íntegros são desamados

Os incompetentes muito avaliados

Os barcos são desgovernados

Os rios apedrejados

 

Os mendigos são odiados

E os desempregados

Coitados

Encurralados

 

Os íntegros são desamados

E os com currículo algemados

Cansados

Dos políticos aleijados

publicado por Francisco Luís Fontinha às 16:07

29
Fev 12

 

84,1 x 59,4 – Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 00:22

Em criança queria ser estilista e nas tardes de Luanda embrulhado em trapos e agulhas e picadelas de agulha construía vestidos para um parvalhão de um boneco apelidado de chapelhudo, e quando penso no Carlos Manuel pergunto-me,

- Qual o parvalhão que batiza um parvalhão de um boneco de chapelhudo,

E em sorrisos pregados na umbreira abraçados à sombra das mangueiras respondia

- Eu,

Queria ser estilista em criança e nas tardes de Luanda ouvia-se o mar quando descia do céu e poisava sobre o ferrugento triciclo onde o parvalhão do chapelhudo entre provas e desaprovas adormecia em corridas de taxímetro e os machimbombos em círculos e círculos e circos onde trapezistas e malabaristas e miúdas de minissaia dançavam sobre o arame invisível da noite,

- Eu Dizia-me ele quando nos sentávamos no jardim e conversávamos sobre sonhos e nunca me esqueço de quando me perguntou O que queres ser quando fores grande?, e eu pensava e eu pensava e engasgado no sorvete do Baleizão respondia-lhe Não ser grande,

Quero ser um petroleiro  ziguezagueando nas nuvens do pôr-do-sol e alimentar-me de vento e de espuma do mar, e quando penso no Carlos Manuel pergunto-me,

- Parvalhão

Claro que me importo

Parvalhão que batiza um boneco de chapelhudo,

De ser grande e deixar de ver o mar a descer do céu e poisar sobre o ferrugento triciclo a tarde misturada nos silêncios do capim e dos pássaros fingindo que eram aviões E qual aviões menino E sempre soube que eram pássaros e sempre soube

- Claro que me importo,

Que o circo era a fingir, e sempre soube que a menina que andava a cavalo em frente ao portão do quintal era a fingir, e sempre soube que os petroleiros não ziguezagueiam e se ziguezagueiam é porque estão embriagados e tão pouco se alimentam de vento e de espuma do mar,

- Se me importo?

Claro que me importo quando passa por mim o Carlos Manuel com o chapelhudo ao colo que em criança queria ser estilista e nas tardes de Luanda embrulhado em trapos e agulhas e picadelas de agulha construía vestidos e hoje mora numa pensão de Cais de Sodré e quando acorda a noite veste-se de Marilú e senta-se numa pedra junto ao Tejo a enrolar cigarros e a chamar pelo mar,

- Parvalhão,

O mar.

 

(texto de ficção)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:47

 

50 x 70 Acrílico sobre cartolina – Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:49

 

50 x 60 Acrílico sobre tela – Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:47

27
Fev 12

 

50 x 70 Acrílico sobre cartolina – Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:39

 

50 x 60 Acrílico sobre tela – Francisco Luís Fontinha

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:38

Na tua boca

As palavras dos meus versos sem nome

Que o desejo consome

E o amor cintila dentro da escuridão da noite

 

Na tua boca

Os meus lábios em desespero ardente

Um verso com corpo de gente

E olhos de mar

 

Que voa sem parar

 

Na tua boca

As flores cansadas de voar

As gaivotas que deixaram de florir

Na cidade louca

Com ruas a abarrotar

E um rio a sorrir

 

Que voam sem parar

As palavras dos meus versos sem nome

Que o desejo consome

Antes de acordar

publicado por Francisco Luís Fontinha às 17:36

26
Fev 12

Desejar não desejando

As palavras tristes da noite

Que escrevo na mortalha da insónia

Pego num livro e finjo adormecer

Dentro dos lençóis amarrotados debaixo da claraboia do silêncio

Desejar não desejando

As sílabas de sofrer

Nas vogais amando

Viver sem viver

Viver sofrendo

publicado por Francisco Luís Fontinha às 13:53

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