Cessaram todas as lágrimas
E a dor do meu corpo transformou-se em dálias
E rosas com sorriso encarnado
Cessaram as luzes da cidade
E cessarão as ruas e os edifícios
E nas ruinas crescerá um poema
Em cada porta de entrada
Com sorriso para o mar
Nunca me abraçaste
Nem gostas dos meus poemas
Detestas os rios que correm para o mar
E dizes que sou louco
E não o dizes mas talvez o penses – (não serves para nada
E não passas de um mendigo que vagueia dentro da noite)
Nunca me abraçaste
E deves pensar que o meu rosto é uma rocha
Ou um pedacinho de madeira abandonada
Quando chove e à janela do asilo peço ajuda
E fingem não me ouvir
E fingem não me ver
Nunca me abraçaste
E restam-me os ramos das árvores
Onde escrevo os poemas
Que detestas e odeias
E sou um mendigo que vagueia dentro da noite
Tenho rosto e tenho mãos
E às vezes descem as lágrimas da copa das árvores
E alimentam o meu sorriso adormecido
Numa folha de papel meia dúzia de palavras
Que copiei dos ramos das árvores que tu tanto odeias
Tenho rosto e tenho mãos
E amo loucamente as minhas palavras.