Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

25
Mar 12

Deixei de sonhar

E amar

O meu corpo é uma roda dentada

Mergulhada em limalha de ferro

E pingos de solda

Transporto-me para a algibeira da noite

E todas as minhas veias desbagoam num beco sem saída

Prendem uma corda de nylon nas minhas mãos desiludidas

E lentamente cessa em mim a respiração

E lentamente cessam em mim os fios de sémen

Que deixaste na minha insónia

Antes do clarear do dia

 

Deixei de sonhar

E amar

Quando desapareceste entre as lágrimas do rio

O meu caixão de papel treme nos lábios da solidão

E adormeço na claraboia da infância

Morro

 

Morro sem saber o que é a felicidade

E o amor que acorda nas palavras da tarde

Morro

Morro sem saber o que são acácias

 

E que na noite crescem lágrimas na mão de uma laranja

E morro

Nos pergaminhos da loucura

Antes do nascer do sol

 

Deixei de sonhar

E amar

Eu suspenso no estendal sobre o mar

Eu

Lentamente na garganta do cansaço

Quando a miséria se alimenta dos meus olhos

E na minha boca vejo o esqueleto da fome

Morro

Morro feliz porque deixei de sonhar

E amar

E cessaram em mim todas as orquídeas

E cessaram em mim todos os horrores…

publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:27
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Sempre vivi embrulhado a uma manta de solidão, sempre

- Porquê a mim? Tive sorte,

Que alguém entra na minha vida crescem raízes de vergonha, sempre que desce a noite sobre a seara do amor alguém sente vergonha de como eu sou e vivo, mas não me importo, não me importo porque a minha miséria pertence-me, herdei-a à nascença nas ruas de luanda,

O velho Armindo às voltas com a roda dos dias e das horas e dos minutos e dos segundos, coitado, o velho Armindo esqueceu-se da manivela das horas

- Porquê a mim?,

E nasci às sete horas e trinta minutos, quando tenho a certeza que se não fosse a inércia do velho desdentado e coxo e agarrado à próstata,

- Tive sorte,

Eu tinha nascido ao meio dia em ponto, e a parteira no intervalo das torradas e café com leite,

- Puxe Puxe que está quase,

Fiquei entalado entre as sete horas e vinte e nove minutos e as sete horas e trinta minutos, esfrego os olhinhos e ouve-se a minha primeira caralhada

- Só mais um pouco Puxe com força…

Foda-se,

A parteira encolhe os ombros e de volta às torradas e café com leite tropeça no meu pai quase a desfalecer,

- É um menino,

É gorducho e malcriado,

- Olha… Desmaiou Deve ser da emoção,

Os cigarros transpiram e dissolvem-se-lhe na algibeira da camisa, que alguém entra na minha vida crescem raízes de vergonha, sempre que desce a noite sobre a seara do amor alguém sente vergonha de como eu sou e vivo, mas não me importo, não me importo porque a minha miséria pertence-me

- É minha e É minha e É minha,

Herdei-a

- Estás a dormir Armindo? E que não Não estou a dormir apenas descanso os olhos…

Pertence-me porque herdei-a nas ruas de luanda quando sentado na esplanada do Baleizão um aglomerado de silêncio embateu contra a esplanada, o meu pai desfaleceu e tombou sobre o pavimento térreo do musseque,

- Era domingo e estava sol

Herdei-a não se cansava de gritar o gorducho remelado à porta do púbis e a proferir insultos à parteira,

Foda-se,

- E às sete horas e trinta minutos

Onde estás Armindo?

- E às sete horas e trinta minutos procuro a janela da maternidade e olho pela primeira vez a cidade, e os machimbombos de mão dada a borboletas encarnadas e caracóis loiros, como as gajas de Cais de Sodré, sentadas em mesas imaginárias à pesca de taças de champanhe e copos de uísque,

Armindo

- O primeiro cálice da noite o primeiro cigarro da noite o primeiro desejo da noite E pergunto-me, Porquê eu?,

Tiveste sorte Responde-me o velho Armindo,

- Que alguém entra na minha vida crescem raízes de vergonha, sempre que desce a noite sobre a seara do amor alguém sente vergonha de como eu sou e vivo, mas não me importo, não me importo porque a minha miséria pertence-me, herdei-a à nascença nas ruas de luanda,

Se te fosses foder Armindo…

 

(texto de ficção)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:20

Deixei de acreditar no amor

E nas pessoas que fingem amar

Deixei de acreditar

 

Deixei de acreditar no amor

E na insónia

Deixei de acreditar

 

Deixei de acreditar no amor

E nas pessoas que fingem amar

 

Deixei de acreditar

publicado por Francisco Luís Fontinha às 14:13
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publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:06

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