Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

26
Mar 12

Evaporam-se as estrelas na algibeira da dor, um corpo transparente mergulha na superfície da lua, ouvem-se lágrimas no pavimento ensanguentado de livros e pedacinhos de tela,

- Não sei chorar

Ouvem-se todos os silêncios imaginários e dentro de mim um penhasco de rocha em decomposição, o cheiro intenso a carne embebida nos lençóis de sémen, evaporam-se as estrelas na algibeira da dor,

- Porque fui construído em aço inoxidável numa cidade invisível antes de terminar o dia, oiço as palavras argamassadas de sangue poisadas na ardósia da escola, e sentado debaixo de um pinheiro doente, e sentado debaixo de um pinheiro doente dou-me conta que a primavera não existe, dou-me conta que todas as árvores são parvas, e eu, e eu apenas espero pela chegada da noite,

As flores murcham e uma abelha rouba o sol e a noite ficou eterna, e a noite tem os seus encantos quando todas as luzes se evaporam como as estrelas

- Nunca soube o que é o amor,

Estou longe e todas as estrelas rangem nas mãos do orvalho quando os pedaços de mar entram pela casa e agachados junto ao rodapé, um crucifixo, um crucifixo chora nas fendas da alvenaria,

- Quem sou Pergunta-se ele quando vê uma rocha de xisto no espelho estilhaçado que vive no quarto escuro onde se esconde o mar junto ao rodapé, Não sei chorar, e sei que o AL Berto, Algures…, e sei que o AL Berto algures me olha e aproxima-se dos meus braços,

- Um simples abraço, Pensava eu,

Nunca soube o que é o amor, nunca soube o que é a poesia, e pagava, e pagava para não saber ler, e pagava para não saber escrever,

- Que feliz, Que feliz se todo o alfabeto fosse para mim como as joias de ouro e o dinheiro, Merda amarela…

Um vazio infinitamente azul nas paredes do meu quarto, Quem sou Pergunto-me quando vejo uma rocha de xisto no espelho estilhaçado que vive no quarto escuro onde se esconde o mar junto ao rodapé, Ele não sabe chorar, e o AL Berto, Algures…, e o AL Berto algures olha-o, aproxima-se e abraça-o,

- Evaporam-se as estrelas na algibeira da dor

Antes de terem roubado o sol,

O meu corpo transparente mergulha na superfície da lua, cerro hermeticamente os olhos, e, cerro hermeticamente os olhos e dou-me conta que debaixo do pinheiro doente uma criança brinca com os ponteiros de um rabugento relógio, e a tarde, e as estrelas, e tudo evapora-se na algibeira da dor…

- Não sei chorar porque fui construído em aço inoxidável numa cidade invisível antes de terminar o dia.

 

(texto de ficção)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:43

Não chores

Não

Porque…

Porque eu…

Porque eu não valho uma lágrima

Um simples olhar

Ou apenas um sorriso

 

Não chores

Não.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:40

(aos poucos amigos que na obscuridade tudo fazem para que eu não passe fome; Obrigado)

 

Aqui tão perto

E tudo parecia tão longe

Aqui tão perto

Quando todos os vidros das janelas do inverno

Adormeceram

 

Aqui tão perto

Quando cresce o néon da primavera

E todas as flores

Tão belas

Tão… especiais

Aqui tão perto

E tudo parecia tão longe

Inatingível e desumano e horrível

 

Aqui tão perto

E tudo parecia tão longe

 

A primavera.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:22

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