Este barco sem rumo
Nas águas cansadas onde dormem as rosas vermelhas
Este barco sem rumo de âncora aguçada
Entre as nuvens e a lua atormentada
O poeta faz um esboço na maré
Com o carvão inventado das lágrimas da noite
O poeta é um parvalhão
Dentro do barco sem rumo
À procura das sandálias da infância
Teso sempre teso como o fio-de-prumo
Que liga a janela da noite à janela do dia
E o corpo do poeta
Nada mais de que as palavras em revolta
Nada mais
Poeta parvalhão
Sempre teso
Sempre sem tostão
Poeta de merda.
Há de acordar o dia
Nos pergaminhos do teu corpo invisível
Há de evaporar-se a noite no centro do mar
Há de fugir de mim a solidão
E a tristeza
Há de regressar
A vontade de amar
De ler
Escrever
Há de acordar o dia
E todas as janelas descerradas
E todas as luzes felizes na tua mão
Há de crescer algas nos teus lábios
E desejos na tua boca
Há de nascer um livro
Nos teus seios de cristal
Há de acordar o dia
Que serei livre de gritar que te amo
(Há de crescer algas nos teus lábios
E desejos na tua boca
Há de nascer um livro
Nos teus seios de cristal)
E não me importo que me chamem de louco
Porque quando acordar o dia
(há de acordar o dia)
Quando acordar o dia…
Gritarei que te amo.