O meu sonho, Dizia ele, Fazer amor contigo e ler nos teus olhos a palavra amo-te, escrever no mar e abraçar a lua, brincar na areia molhada da praia, e olhar docemente o sorriso do espelho do meu quarto, antes de adormecer, antes de começar o dia...
O meu sonho, Dizia ele, Fazer amor contigo e ler nos teus olhos a palavra amo-te, escrever no mar e abraçar a lua, brincar na areia molhada da praia, e olhar docemente o sorriso do espelho do meu quarto, antes de adormecer, antes de começar o dia...
Qualquer coisa estranha à janela
olho as árvores imaginadas
por um miúdo em calções
olho-lhe os braços suspensos no cacimbo
e ele acena-me com um sorriso ténue
antes de adormecer a tarde
e enquanto me acena
vai imaginando árvores enormes quase a tocarem o céu
árvores que rompem a montanha
árvores que alguém esqueceu
num jardim de aldeia
ou perdidas numa cidade
sem janelas
sem portas
sem casas
uma cidade construída em papel
e com muitas palavras
a cidade dos livros
a cidade dos livros
com gajas poeticamente desejadas
e poeticamente amadas
como as flores dos jardins de Belém
uma cidade sem cigarros
e sem rimas
e todas as personagens
coisas estranhas à janela.
Procuro nos olhos oblíquos da manhã
a bissectriz do cansaço
o meu corpo transforma-se em matriz composta
e dos meus braços
crescem linhas paralelas sem destino
algures suspensas no infinito
elevo ao quadrado a minha solidão
e à raiz quadrada do sofrimento
adiciono uma noite sem nome
sem horários
sem nada