Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

23
Abr 12

Nunca soube o significado da palavra MAR

nunca vi o mar

e o amor

com dor

ao acordar

e o amor com dor

embrulhado nos lençóis da maré

amar

amar sem fé

amar amar

o mar

quando nos olhos de uma flor

com dor

quando nos olhos de uma flor

o amor

amar

o amor finge adormecer

eternamente

com dor

eternamente ausente

nas pálpebras do amante

sofredor

 

escrever

 

o amor

e o mar

o amor com dor

amar

a dor

sem mar

 

eternamente ausente

não sente

o amor sem mar

amar sem dor

o amor...

o amor sofredor.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 17:38
tags: , , ,

Procuro-te nas almofadas da noite

entre os lençóis do mar

oiço-te embrulhada nas ondas

a brincares com as minhas palavras...

oiço-te e não consigo ver-te

e não consigo tocar-te

porque o mar em revolta

à minha volta

roubou-me o sonho

e cerrou as janelas do meu pôr-do-sol

e até a lua deixou de brilhar

e as palavras com que brincas

aos poucos desaparecem antes de acordar a madrugada

tal como eu

um louco

suspenso entre as sandálias

e os calções de infância

um louco

tal como eu

que não consegue tocar-te

que não acredita no céu

um louco

tal como eu

às voltas com o caderno da solidão

onde escrevo

onde semeio as minhas lágrimas

e escondo

um louco

tal como eu

e escondo o meu coração

de titânio

de xisto

de argamassa

um coração estupidamente só

um coração

ao abandono

sem dono

sem destino

desde menino

sentado num banco de jardim

à tua espera

(oiço-te e não consigo ver-te

e não consigo tocar-te

porque o mar em revolta

à minha volta)

sem dono

sem destino

eu um louco

que não consegue tocar-te

sentado num banco de jardim

o meu coração

a escrever versos no caderno da solidão

assim

eu tão só

tão pouco

um louco

assim

assim entre os lençóis do mar

e as noites de inferno

onde te oiço

a vasculhar o meu caderno da solidão

onde escrevo

e semeio

os guindastes da vida...

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:35

22
Abr 12
publicado por Francisco Luís Fontinha às 23:22

As mãos

em desejo

os lábios à procura do beijo

quando a boca

nas mãos

quando a boca

se alimenta da madrugada

tão louca

ou quase nada

as mãos

em desejo

coisa pouca

à procura do beijo

as mãos

em desejo

entre lábios sem jeito

e uma boca amargurada

se alimenta da madrugada

em desejo

ou quase nada

coisa pouca

a boca

as mãos em desejo

à procura da cidade

na boca

o beijo

coisa pouca

sem maldade

entre lábios sem jeito

as mãos

as mãos entrelaçadas no leito

as mãos sem vaidade

na boca

na boca louca

o beijo

em desejo

na cidade

na cidade mergulhada na madrugada

coitada

coisa pouca

a boca

em desejo

as mãos

sem nada

sem nada descendo a calçada

coitada da boca

louca

amargurada...

publicado por Francisco Luís Fontinha às 13:04

publicado por Francisco Luís Fontinha às 01:06

21
Abr 12

Apetece-me caminhar sobre as montanhas desenhadas na tela do inferno, apetece-me correr dentro dos cubos de gelo que guardo religiosamente na algibeira, e aos poucos..., e aos poucos sinto as finíssimas gotas de água descerem-me pelas pernas esqueléticas, migalhas de xisto desprendem-se das nuvens em direcção à cidade,

- os cigarros ajoelham-se e pacientemente solicitam-me Solicitamos a presença de vossa excelência nas nossas instalações pontualmente às vinte e uma horas, e por favor, e por favor faça-se acompanhar de um prato de alumínio, respectivos talheres, guardanapo e um copo,

e percebo que me vão enforcar nos jardins do palácio, e não há amor que me possa salvar,

- e já agora vou levar também uma toalha de linho e um cordel E não esquecer o guarda-sol, os óculos escuros e o meu esqueleto, e já agora percebo que me vão enforcar na árvore adjacente ao caminho pedestre enfeitado de arbustos e janelas sem vidros, e portas sem janelas, e casas sem pessoas, e pessoas, e muitas pessoas a olharem-me

e não há amor que me possa salvar,

a olharem-me como se eu fosse um louco agarrado às grades de ferro invisíveis que me protegem das gaivotas suspensas no rio, Para a sua segurança está a ser filmado, vou ao espelho, componho os poucos fios de cabelo de piaçaba, molho a ponta do dedo nos lábios esbranquiçados e começo a desenhar riscos no meu rosto, riscos e riscos e riscos,

- um sorriso por favor, e por favor, e por favor faça-se acompanhar de um prato de alumínio, respectivos talheres, guardanapo e um copo,

olho a árvore e debaixo do meu pé esquerdo o prato de alumínio, olho a árvore e debaixo do meu pé direito a toalha de linho, olho a árvore, olho a árvore e do cordel preso a um ramo embalsamado vejo o meu papagaio de papel em fintas de mão dada com o vento,

- Sabe minha Senhora? Diga meu amo! A vida é uma merda mas melhor do que isto não existe, Assim seja meu amo, Assim seja,

e por favor, e por favor faça-se acompanhar de um prato de alumínio, respectivos talheres, guardanapo e um copo, e do cordel preso a um ramo embalsamado vejo o meu papagaio de papel em fintas de mão dada com o vento,

Assim seja meu amo, Assim seja.



(texto de ficção não revisto)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:53

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:26

Eternamente só

pensava eu quando da janela sem sorriso

me olhava a lua longínqua emersa nos silêncios da noite

todas as estrelas desapareceram do céu

e todos os lábios adormecem nas profundezas do oceano

à procura de barcos sem destino

 

(pensava eu eu)

 

eternamente só

dentro deste cubo de vidro

poisado nas garras da solidão

à espera que morra a manhã

que morra a tarde

e se faça noite

dentro de mim

ou não...

 

(pensava eu)

 

pensava eu que da janela sem sorriso

um finíssimo fio de alegria

se entrelaçava nos meus braços

e eu começava a voar

 

sem destino

à procura de barcos

e se faça noite

dentro de mim

ou não...

pensava eu.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 10:54

20
Abr 12

Horrores

das palavras horríveis

no jardim sem flores

 

horrores

as sílabas dos teus lábios em delírio

ao cair a noite

meu deus Que martírio

os sussurros dos tambores

na calçada

 

os gemidos dos amores

sem madrugada

 

horrores

 

das palavras horríveis

nas janelas sem livros

sem flores nuas

sem poesia

 

horrores

quem diria

os sussurros dos tambores

junto ao rio

 

os gemidos dos amores

sem madrugada

 

sem nada.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:52

publicado por Francisco Luís Fontinha às 14:55

Abril 2012
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6
7

8
9





Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds
Posts mais comentados
mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO