Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

24
Mai 12

a tristeza é uma coisa porreira

veste-se de negro

usa sapatos de verniz

e come bolachas enquanto a noite se masturba

 

a tristeza é uma coisa porreira

embebeda-se

dá umas fodas na cabeça da alegria

e desaparece debaixo da loucura das estrelas

 

a tristeza é simplesmente fodida

parece a poesia

em noite de lua cheia

 

a tristeza é simplesmente bela

esbelta como uma mulher

quando caminha junto ao mar.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:51

oiço o acordar

do silêncio azul

nas paredes do meu peito

 

oiço o mar

a morrer

 

oiço o acordar

do silêncio azul

num livro a arder.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 19:52

23
Mai 12

atrás de mim a sombra dos eucaliptos

montanha abaixo

atrás de mim

as asas de um pássaro

a fogueira da vaidade

a humilhação de caminhar descalço

sobre o mar

 

atrás de mim a sombra dos eucaliptos

montanha abaixo

uma casa em ruínas

onde habito e faço de esconderijo

 

as pálpebras do inferno

o cheiro a incenso

e a mijo

é isto meu amigo

é isto a vida

sem sentido

aos gritos na cidade

 

atrás de mim

uma bola de fogo

e três bailarinas travestidas de primavera

sem cinto nem fivela

 

é isto meu amigo

é isto a vida...

um barco à vela.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 18:05
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22
Mai 12

(Malditos silêncios

que me trazem palavras

lágrimas de sono

e flores sem madrugadas)

 

um cavalo tropeça na sombra da lua

antes de mim

passou aqui um homem vestido de árvore

a correr

a saltar

um homem sem pátria

sem olhos

sem pernas

sem braços

um homem de pedra

vestido de árvore

à procura de um cavalo

 

(Malditos silêncios

que me trazem palavras

lágrimas de sono

e flores sem madrugadas)

 

os pássaros

poisados nos meus ombros encurvados

a procura de um cavalo

uma mulher de pedra

vestida de árvore

invisível

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:34

Números complexos

palavra triste

ângulos convexos

na manhã que insiste

e resiste

à tentação de um verso

números complexos

em rotação

perverso

o meu coração

com versos

e resiste

às flores

com mãos de algodão

e resiste

a cansada paixão.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:45

21
Mai 12

Há sempre alguém à nossa espera, o sol, a chuva, o vento, o mar, os lençóis de um divã, ou um petroleiro engasgado no sofrimento do rio, há sempre um cubo prisioneiro numa janela de primavera sem telhado, há sempre uma mulher suspensa no arame de luz que atravessa a rua, há sempre um automóvel pronto a caminhar sobre o meu corpo, há sempre um pano negro que ofusca o meu olhar, uma nuvem cinzenta que dissipa os meus sonhos, há sempre

 

- o dia disfarçado de noite, a luz disfarçada de chuva, o amor vestido de gangster e de metralhadora ao ombro, o homem de túnica encarnada a dançar sobre as pedras da calçada, o girassol murcho nas mãos de uma criança, o rio sem nome em direcção ao mar,

 

Há sempre, uma cidade que deixou de existir, uma escola que cresceu e hoje é o cemitério onde são enterrados todos os livros de poesia, há sempre, a rua da saudade paralela à rua do desejo e atravessa a rua da solidão, há sempre, a vida pintada de muitas cores numa tela de vidro, a boca louca em busca do beijo, a flor cansada que procura a carícia do jardineiro, sempre

 

- há bolachas sem cigarros, orquídeas em papel nas paredes do meu quarto, a clarabóia acaba de morrer e leva-a a noite para longe,

 

Portanto..., diria que há sempre um dia, uma noite, uma manhã sem sentido, o pequeno-almoço, jantar, lanche e almoço, a Eucaristia, há sempre

 

- deus a castigar-me, há sempre alguém à nossa espera, a chuva, o vento, as nuvens, um petroleiro louco nos carris do destino, deus cansado de me ouvir, deus à procura dos lençóis de nylon gamados na feira da ladra, o relógio, há sempre um relógio a controlar-me, sempre a odiar-me, sempre pertinho de mim,

 

Há sempre uma mão que cerras olhos quando eu atravesso a rua,

 

- sempre, pertinho de mim.

 

Uma mão imaginária de óculos escuros.

 

 

(texto de ficção não revisto)

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:43

O que faz o amor

em dor

nos olhos de uma flor,

 

De que serve a paixão

no coração

quando a noite é escuridão,

 

o que faz um poema sem amanhecer

nos lábios de um livro em soluços de morrer,

o que faz o amor

em dor

na vida sem viver...

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:26
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20
Mai 12

Às vezes

não tenho a certeza

se as flores belas do meu jardim

estão alegres

ou embrulhadas em tristeza,

 

às vezes

não tenho a certeza

se as palavras que escrevo

são palavras

ou orgasmos de beleza,

 

às vezes

não tenho a certeza

se as tuas mãos de seda

são o mar em construção

ou a noite em pobreza.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 12:52

19
Mai 12

Os ângulos rectos do amanhecer

junto à hipotenusa da tua boca

em delírio

uma ilha de cristal

acena-me e sou levado pelo vento

como uma abelha louca

em martírio

antes da morte

 

o seno das tuas mamas

tangentes ao limite das ruas paralelas da cidade

um rio em revolta

dando força aos teus braços

que me sufocam

em círculos

triângulos

rectos do amanhecer

 

trigonometria

geometria

poesia

ruas e calçadas

madrugadas

cansadas

Os ângulos rectos do amanhecer

sem palavras para eu escrever.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 22:30

Há uma cidade

dentro de mim

que fervilha e morre,

há uma saudade

no meu jardim

que saltita e corre,

 

há um clarim

que não me deixa adormecer,

há uma cidade dentro de mim

que não se cansa de morrer,

 

há uma cidade

perdida na saudade,

 

há uma cidade

dentro de mim

que fervilha e morre,

uma cidade sem idade

num corpo assim-assim...

no dia que chove.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 11:59
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