A minha vida
sem tecto para olhar as estrelas
a minha vida
sem paredes
onde viviam janelas
a minha vida sem portas
onde dormiam flores
com cheiro a incenso
a minha vida
(uma merda em dois actos)
uma rua sem saída
ou a puta da sarjeta no centro da avenida
(horrível)
o rio sem barcos o rio sem sargentos o rio sem travestis
é triste este rio que chora e não desiste
a minha vida
(uma farsa literária)
com fotografia para o mar
onde brincam os afogados
e os desesperados que dizem que a minha vida
é uma encomenda sem morada
perdida
nas mãos do senhor Opiário...