Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

28
Jun 12

Tudo à minha volta morreu:

morreram os miúdos que brincavam

nas tardes de Luanda

com triciclos de madeira

e sombras de mangueira

e novelos de esperança

nos lábios de papagaios de papel

em galopes invisíveis de um cavalo branco

 

morreram as gaivotas

e todos os pássaros meus amigos

morreu a Baía

e as palmeiras do fim de tarde

 

morreram os barcos

e as mulheres dos barcos

morreram os filhos dos barcos

e as sogras dos barcos

restaram os sogros

para contarem a história dos putos traquinas

que simulavam a morte com um pirolito

ou com uma gasosa junto ao capim

 

não morreram os musseques

multiplicaram-se

triplicaram-se

como todas as ervas daninhas da vida

 

(morre a felicidade

e todos os miúdos que foram felizes

excepto os musseques que crescem

crescem e crescem até chegarem ao céu...)

e que amanhã será um outro dia

(qual dia “caralho”?)

 

se todos os dias são fotocópias do dia anterior

e os musseques crescem e crescem e crescem

e crescem...

nos céus de Luanda.

publicado por Francisco Luís Fontinha às 21:46

Junho 2012
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