outras coisas
às vezes
(sinto-me um homem sem pátria)
outras vezes
há coisas para as quais...
coisas inexplicáveis
(coisas sem pátria)
às vezes
outras coisas
procuro o meu nome
na parede da sala
onde está suspensa a última ceia de Cristo
(e curiosamente hoje sem fome)
às vezes
outras coisas
sem pátria
e quando acordar o jantar
talvez hoje
coisas sem pátria
às vezes
sem fome
outras coisas infinitas.
Os homens desabitados
procuram pacientemente
as lâmpadas de néon
que sobejaram da noite
(não me dão trabalho
porque um qualquer parvalhão
ou parvalhão
acredita que por eu ter 4 blogues
escrever poesia
e inventar marés nas margens de uma sebenta...
sou um incompetente)
os homens sentados sobre as marés
de algodão
pacientemente à pesca de barcos e ponteiros
de um relógio de bolso
(… sou um incompetente, o que não é verdade)
estou triste
mas não me sinto só
nem abandonado
os homens desabitados
procuram
como eu
trabalho dentro das mãos do mar
os homens
os homens desabitados
(estou triste
mas não me sinto só
nem abandonado)
porque tenho 4 blogues
escrevo poesia
e invento marés nas margens de uma sebenta...
muito triste
eu
tão triste
e não abandonado.
Acorda o sono
nos teus olhos de areia molhada
entra em ti a madrugada
dos lençóis húmidos da primavera
e alicerça-se um sorriso
nos lábios da manhã
acorda o sono
fechado em ti
o livro do eterno cansaço
nos teus olhos
de areia molhada
no centro da seiva acordar
acorda
acorda do outro lado da cidade
o sono
de areia molhada
os teus olhos de amar...
todas as coisas têm um nome
todos os nomes
coisas com rosas brancas nos lábios
todas as coisas
todos os nomes
com olhar transparente na boca
todas as rosas
e todos os loucos
todas as coisas têm um nome
e eu sou uma coisa
com uma rosa branca nos lábios
todas as rosas
e todas as coisas
são madrugadas sem acordar
Todas as coisas têm um nome
todos os nomes
coisas com rosas brancas nos lábios
todos os nomes e todas as coisas
dentro de ti
mulher infinita que habita no meu jardim...
Manhã de Junho
das manhãs mais parvas da minha vida
manhã sem sentido
de Junho
numa rua sem saída
manhã de Junho
nesta cidade parva
que é a vida.
há um beijo
suspenso na garganta da maré
há um poema
nos lábios do beijo
nos cortinados do café
um beijo
há uma gaivota insaciável
nas garras do poema
à procura do beijo
há um livro
com um beijo
suspenso na maré
há um blogue
com olhos de beijo
e poemas
e palavras
nas garras insaciáveis do blogue
um beijo
um cachimbo
há um blogue de água
com palavras
e desejos e minutos insaciáveis
poemas com beijos.
Esconde-se o dia
no cu da agulha
abraçado
o dia
cansado
o dia com poesia
no cu da agulha
abraçado o dia
à porcaria
amaldiçoado sejas
o dia
no cu da agulha
cansado o dia
abraçado sejas
amaldiçoado dia-a-dia
na lápide da vida.
Conheci uma rapariga
com nuvens de algodão no cabelo
e no peito
fios de luz em desassossego
antes de cair a noite
a rapariga estudava
literatura
arte Russa
e poesia Turca
e namorava
ao final do dia
com nuvens de algodão no cabelo
literatura
arte Russa
e poesia Turca
a olhava
e cantava
e namorava
com as minhas palavras
no peito
fios de luz em desassossego
e caminhava
nas palavras atadas
às mãos do medo.
Conheci-a na esplanada do café
vestida de perfume rosa
e com uma borboleta no cabelo
sentou-se ao meu lado
sem pedir licença
olhou-me e disse-me:
Olá eu sou a morte...
e eu respondi-lhe:
paciência
vens atrasada
como sempre nunca tens hora para chegar
nem data marcada.