os cigarros inventados
suspensos nas tuas mãos de fim de tarde junto ao mar
ao longe os barcos de papel que pacientemente
esperam o jantar servido debaixo dos plátanos
meia dúzia de pássaros
poisados sobre os plátanos
defecam sobre mim
e o livro de mia couto que trago na mão
“a confissão da leoa”
aborrece-se com a minha melancolia
torno-me chato
impaciente e revoltado
(sinto saudades dos cigarros inventados
e dos fins de tarde à espera do mar)
deixei de receber cartas de amor
com corações
e flores
com um cheirinho agradável
e palavras desenhadas com lábios de desejo
e beijos de saudade
deixei de receber os cigarros inventados
e hoje não cartas de amor no correio dos cigarros inventados
na esquina impaciente e chata e revoltada
nos confins do desejo
dentro das bocas ressequidas com esperma e melódicas palavras de horror...
e os barcos entram em mim
(sinto saudades dos cigarros inventados
e dos fins de tarde à espera do mar)
e os barcos entram em mim
como se eu fosse a doca do abismo
(deixei de receber cartas de amor
com corações
e flores
com um cheirinho agradável
e palavras desenhadas com lábios de desejo
e beijos de saudade)
como se eu fosse as rochas esgrimes da morte inventada
no jardim da melancolia...