Blog de Luís Fontinha. Nasceu em Luanda a 23/01/1966 e reside em Alijó - Portugal desde Setembro de 1971. Desenhador de construção civil, estudou Eng. Mecânica na ESTiG. Escreve, pinta, apaixonado por livros e cachimbos...

06
Jul 12

os cigarros inventados

suspensos nas tuas mãos de fim de tarde junto ao mar

ao longe os barcos de papel que pacientemente

esperam o jantar servido debaixo dos plátanos

 

meia dúzia de pássaros

poisados sobre os plátanos

defecam sobre mim

e o livro de mia couto que trago na mão

“a confissão da leoa”

aborrece-se com a minha melancolia

torno-me chato

impaciente e revoltado

 

(sinto saudades dos cigarros inventados

e dos fins de tarde à espera do mar)

 

deixei de receber cartas de amor

com corações

e flores

com um cheirinho agradável

e palavras desenhadas com lábios de desejo

e beijos de saudade

 

deixei de receber os cigarros inventados

e hoje não cartas de amor no correio dos cigarros inventados

na esquina impaciente e chata e revoltada

nos confins do desejo

dentro das bocas ressequidas com esperma e melódicas palavras de horror...

e os barcos entram em mim

 

(sinto saudades dos cigarros inventados

e dos fins de tarde à espera do mar)

 

e os barcos entram em mim

como se eu fosse a doca do abismo

(deixei de receber cartas de amor

com corações

e flores

com um cheirinho agradável

e palavras desenhadas com lábios de desejo

e beijos de saudade)

como se eu fosse as rochas esgrimes da morte inventada

no jardim da melancolia...

publicado por Francisco Luís Fontinha às 20:00

Julho 2012
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