Cansado desta “merda” toda...
do jantar sobejaram as espinhas de miséria
e a varanda da insónia desdestrói-se sobre os socalcos do cansaço
e cresce em mim a vontade de desistir de todos os sonhos
e de todos os jardins onde me sentei e escrevi com o meu olhar
poemas de “merda” no troco das árvores com inércia e pedacinhos de musgo nos braços
ler
escrever
amar
(foder
nas palavras embriagadas da noite)
e das marés sem luar
(cansei-me das janelas isósceles
e das portas rectângulos sem memória
do seno de trinta graus
ou das tangentes fictícias à meia-noite)
oiço os apitos invisíveis
dos barcos imaginários
que galgam a seara da tristeza
mergulhada no vento da noite escura
cansado
cansado do jantar
cansado
cansado do amor das palavras
cansado
cansado dos livros que adormeço
cansado
cansado dos livros que leio
e dos cachimbos
cansado
cansado da vergonha
de ser um miserável ou um fantasma sem cabeça
quando os barcos de verdade
regressam do banco de jardim frente aos correios (já falecido)
e trazem nos olhos as cerejas da adolescência...